Sistemas alimentares: o que são e como impactam a segurança alimentar no mundo

Veja como funcionam os sistemas alimentares e entenda por que eles precisam ser transformados

Veja como funcionam os sistemas alimentares e entenda por que eles precisam ser transformados

Mais de 600  milhões de pessoas passaram fome no mundo em 2024, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Esse cenário revela o quanto nossos sistemas alimentares são ineficientes, ou seja, o conjunto de processos que compõem a produção, distribuição e consumo de alimentos pela sociedade não é capaz de garantir que todas as pessoas acessem uma alimentação adequada.

Os impactos dessa ineficiência vão muito além do percurso que a comida faz do campo à mesa. Entenda o que são, como funcionam e como podemos criar sistemas alimentares mais eficientes e sustentáveis.

O que são sistemas alimentares?

Os sistemas alimentares englobam todos os processos e atores envolvidos na produção e distribuição de alimentos, desde o cultivo e a colheita até o processamento, transporte, venda, consumo e descarte.

Esses sistemas não se limitam à produção de alimentos, abrangendo também fatores econômicos, sociais, culturais e ambientais. Isso significa que, desde o que os agricultores conseguem colher no campo até as influências do marketing nas preferências alimentares dos consumidores, tudo faz parte de um sistema maior que impacta na segurança alimentar do mundo inteiro.

Como funciona o ciclo do sistema alimentar da FAO

As etapas dos sistemas alimentares não seguem um esquema linear que vai da plantação à casa do consumidor. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) entende que os sistemas alimentares são compostos por três estruturas:

  • Sistemas centrais, formados pelas cadeias pelas quais os alimentos circulam – produção, processamento, distribuição, consumo e descarte – e os diferentes serviços que sustentam esse fluxo; 
  • Elementos sociais, que incluem as organizações, políticas, leis, regulamentos, infraestruturas e normas socioculturais relacionadas à alimentação;
  • Elementos naturais, que compreendem ar, solos, ecossistemas, água e clima – cujo equilíbrio é essencial para produzir alimentos.

A sustentabilidade dessas estruturas é determinada pela forma que cada uma dessas atividades é feita e pelo comportamento dos vários atores inseridos nelas.

Problemas atuais dos sistemas alimentares

O grande crescimento populacional, a urbanização, as alterações nos padrões de consumo e as mudanças climáticas impactam nossa maneira de produzir, distribuir e consumir alimentos e essas transformações têm consequências graves para a segurança alimentar do mundo, assim como a sustentabilidade ambiental, a saúde e a igualdade social.

Uma das principais é o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados, que, apesar de acessíveis, têm baixo valor nutricional e contribuem para crises de saúde pública, como a obesidade e doenças crônicas relacionadas à má alimentação. De acordo com um relatório da Comissão Lancet Global Health, os sistemas alimentares atuais impulsionam uma sindemia global, caracterizada pela união das pandemias de obesidade e de desnutrição com as mudanças climáticas.

Esse aumento é sintomático de um sistema que privilegia grandes corporações que produzem esse tipo de alimento em detrimento de produtores familiares locais, cuja produção costuma ter menor escala e ser mais alinhada aos ciclos do meio ambiente. Sem incentivos e proteção governamental, os produtores familiares não conseguem competir com os preços dos ultraprocessados, que não são vulneráveis a sazonalidades e às mudanças climáticas, por exemplo.

A competitividade dos preços e a praticidade desses alimentos – são encontrados em qualquer lugar, a qualquer hora, e não demandam preparo – está fazendo com que estejam cada vez mais presentes na rotina de quem tem menos renda e menos tempo para preparar refeições, substituindo a cultura alimentar de cada região e os nutrientes essenciais que as pessoas obtinham dela.

Outras características predominantes dos sistemas alimentares atuais são a desigualdade de disponibilidade de alimentos saudáveis em determinadas regiões, o uso indevido de agrotóxicos que causam problemas ambientais e de saúde, a destruição de ecossistemas para plantio de monoculturas e criação de animais e o desperdício de alimentos em todas as etapas da cadeia; toneladas de comida são descartadas diariamente em todo o mundo, desperdiçando também a energia, a água e o trabalho de quem as produziu.

Um estudo da FAO revelou que os sistemas alimentares globais geram custos ocultos de US$ 12 trilhões por ano – e o Brasil responde por US$ 427 bilhões desse total.

  • Degradação ambiental: a produção de alimentos em grandes monoculturas provocou 97% da perda de vegetação nativa no Brasil em 2021;
  • Mudanças climáticas: 73,7% dos gases de efeito estufa em 2021 foram emitidos por essa produção;
  • Danos à saúde pública: o Brasil gasta R$10,4 bilhões por ano com doenças causadas pela má alimentação.

Fontes: Mapbiomas (2022), Observatório do Clima (2023), Nupens (2024)

O que é um sistema alimentar sustentável?

Um sistema alimentar sustentável é aquele capaz de garantir a segurança alimentar para todas as pessoas de maneira eficiente e equilibrada, ao mesmo tempo em que tem poucos efeitos negativos no meio ambiente e promove a justiça social, sem comprometer a existência e saúde das gerações futuras.

Para ser considerado sustentável, um sistema alimentar precisa gerar impacto positivo nas três dimensões da sustentabilidade: econômica, social e ambiental. Isso significa que ele deve ser ambientalmente responsável, socialmente justo e economicamente viável.

Na dimensão econômica, um sistema alimentar é considerado sustentável se todas as suas atividades forem comercialmente e fiscalmente viáveis, sendo rentáveis para quem tira o sustento dele e produzindo de forma que alimentos de qualidade sejam financeiramente acessíveis para os consumidores e consumidoras.

Em relação à dimensão social, a sustentabilidade nos sistemas alimentares acontece quando o valor gerado por ele é distribuído de forma justa, levando em conta grupos vulneráveis e a redução das desigualdades. Contribuindo, assim, para o avanço de direitos fundamentais como acesso à alimentação de qualidade e condições de trabalho dignas. 

Já na dimensão ambiental, um sistema alimentar sustentável garante que os impactos no meio ambiente sejam neutros ou positivos, considerando a preservação dos recursos naturais e da biodiversidade, e reduzindo ao máximo as emissões de carbono, o impacto hídrico, o desperdício de alimentos e o uso de substâncias tóxicas em sua cadeia.

Soluções para um sistema alimentar sustentável

Reformular as práticas atuais para que os sistemas alimentares se tornem sustentáveis e possam atender às necessidades de todos e todas sem comprometer a vida das futuras gerações é urgente. Essa transição requer uma abordagem integrada e colaborativa que envolva governos, empresas, agricultores, organizações da sociedade civil e consumidores, com ações interconectadas nos níveis local, nacional e global.

No campo, as principais ações desse desafio implicam na adoção de práticas agrícolas mais sustentáveis, tecnológicas e com menor impacto ambiental. O apoio do governo por meio de políticas públicas é essencial, principalmente para pequenos agricultores. 

Para reduzir o desperdício de alimentos, é necessário aumentar a eficiência da cadeia de produção por meio de melhorias na infraestrutura, tecnologia e logística, além de conscientizar o consumidor final.

Outra ação importante é a promoção de uma alimentação e estilo de vida saudáveis e sustentáveis, com mais alimentos de origem vegetal, locais e sazonais, que, além de reduzir as consequências ambientais, também apoiem a agricultura familiar.

Sistemas alimentares atuais Sistemas alimentares sustentáveis
Degradação do solo devido ao uso intensivoCultivos alternados e implementação de agroflorestas
Monoculturas predominantesDiversificação de culturas e preservação da biodiversidade
Alta dependência de pesticidas e fertilizantes químicosUso de biopesticidas e fertilizantes orgânicos
Altas emissões de gases de efeito estufaTécnicas de agricultura de baixo carbono
Consumo excessivo de águaSistemas de irrigação eficientes e conservação da água
Criação de animais em escala industrialPráticas de bem-estar animal e criação ao ar livre
Concentração em grandes produtoresApoio a pequenos produtores e cooperativas locais
Alimentos industrializados e com aditivos; monotonia alimentarAlimentos frescos e orgânicos; diversidade alimentar

O Pacto Contra a Fome é uma das organizações atuantes na construção de um sistema alimentar mais justo. Trabalhamos para acabar com a fome no Brasil e reduzir o desperdício de alimentos por meio de mudanças estruturais, que impactem as dinâmicas desse sistema. Acompanhe nosso trabalho nas redes sociais: Instagram, LinkedIn e Youtube.

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