O boletim de agosto mostra uma leve queda nos preços de alimentos (-0,27%), puxada pela alimentação no domicílio (-0,69%). No entanto, o alívio não é pleno, uma vez que as refeições fora de casa subiram (+0,87%) e itens essenciais como energia elétrica (+2,97%) e água (+0,13%) continuam consumindo uma fatia crescente do orçamento nos lares de menor renda, que gastam proporcionalmente mais com alimentação e serviços básicos.
O que contribuiu para esse resultado?
Essa desaceleração dos preços é reflexo de uma safra robusta de grãos, da valorização do real frente ao dólar e da queda nos preços de commodities agrícolas e insumos importados. No entanto, enquanto os alimentos básicos ficaram mais acessíveis, itens como lanches fora de casa subiram (+1,90%), influenciados pelo período de férias escolares.
Obstáculos estruturais pressionam as famílias mais pobres
O peso da conta de luz, da água e de outros serviços essenciais continua corroendo a renda disponível para a alimentação. Para as famílias com menor renda, qualquer alta em itens de demanda inadiável significa cortar daquilo que já é pouco – muitas vezes, reduzindo a qualidade ou a quantidade da comida no prato.
Esse panorama mantém o alerta para o risco de insegurança alimentar, mesmo em períodos de recuo nos preços médios de alimentos.
Acesso à alimentação saudável é o grande desafio
O custo da cesta NEBIN, referência para dietas nutritivas e adequadas, ficou em 429 reais por pessoa. E o grupo de alimentos in natura e minimamente processados, de acordo com a classificação NOVA, continua apresentando maior variação de preço, reforçando que comprar alimentos frescos e variados ainda não é acessível, o que compromete a nutrição e amplia desigualdades.
O relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição – SOFI 2025″ apontou que quase 24% da população não conseguia pagar por uma dieta saudável, o que equivale a 50 milhões de brasileiros.
Desafios no radar
Mesmo diante dos sinais de acomodação, o boletim reforça que a luta contra a fome exige vigilância constante. Os desafios para promover a segurança em acesso, disponibilidade e estabilidade permanecem.
É preciso garantir, todos os dias, que nenhuma família precise escolher entre comer e pagar a conta de luz.