Nos últimos anos, cada vez mais empreendedores têm mostrado que transformar o mundo também é um bom negócio. No Brasil, já são mais de mil negócios de impacto catalogados, atuando nas mais diversas áreas.
Esses empreendimentos não nascem apenas para gerar lucro, mas para enfrentar problemas sociais e ambientais com soluções inovadoras. É o que se chama de empreendedorismo com causa social.
Saiba o que são negócios de impacto, suas principais características e desafios, e conheça também exemplos de negócios que atuam no combate à fome no Brasil.
O que são negócios de impacto
Os negócios de impacto são empreendimentos que nascem com a missão de solucionar problemas sociais e ambientais por meio de sua atividade principal, sejam produtos ou serviços.
Diferentemente de instituições filantrópicas ou organizações do terceiro setor, além de promover transformação social, esses negócios conscientes geram receita e são financeiramente sustentáveis.
Por isso, o ecossistema de negócios de impacto é denominado setor 2.5. O termo faz referência ao segundo setor, de empresas privadas, que tem foco em gerar lucro, e ao terceiro setor, de organizações sem fins lucrativos, focado em gerar impacto socioambiental positivo.
O princípio desse modelo de negócio é ter o impacto social ou ambiental como o cerne da operação — o chamado core business (atividade principal do negócio, em tradução livre). Em outras palavras, não basta que a empresa faça ações sociais isoladas; a missão transformadora deve estar integrada ao modelo e aos indicadores do negócio.
No Brasil, o conceito de negócios de impacto ganhou força a partir de 2014, com a criação da Força Tarefa de Finanças Sociais (FTFS). A iniciativa articulou organizações e especialistas para estruturar o ecossistema de finanças sociais no país, e deu origem à atual Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto (Aliança pelo Impacto).
Esse movimento levou à criação da Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto (ENIMPACTO), lançada em 2017 pelo Governo Federal. Após um período de interrupção, a estratégia foi relançada em 2023 como Estratégia Nacional de Economia de Impacto, reforçando o compromisso do país com a área e promovendo ações como geração de dados, capacitação e articulação entre diversos atores rumo a um marco regulatório nacional.
Segundo o último Mapa de Negócios de Impacto, realizado em 2023, o país conta com mais de mil empreendimentos de impacto social. Esses negócios sustentáveis apresentam soluções inovadoras em diversas áreas, como saúde, educação, moradia, meio ambiente, energia e segurança alimentar. De acordo com dados do Governo Federal, nesse mesmo ano, os negócios sociais movimentaram cerca de R$ 18 bilhões em investimentos.
Características de um negócio de impacto social
Independente dos setores de atuação, públicos-alvo e modelos de operação, os negócios com propósito têm um conjunto de características fundamentais que os diferenciam dos demais tipos de empresas.
De acordo com a Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto, existem quatro características mínimas para que um empreendimento seja considerado um negócio de impacto social:
1. Intencionalidade de impacto
O impacto positivo — seja social, ambiental ou ambos — deve ser o propósito central do negócio. Isso significa que a solução oferecida pela empresa precisa ser pensada para resolver um problema real da sociedade ou do meio ambiente, em sintonia com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030.
2. Impacto no centro do negócio
Nos empreendimentos sociais, a resolução de um problema social ou ambiental é a atividade principal da empresa, ou seja, o impacto é o core business. Não se trata de uma ação paralela de responsabilidade social, mas sim de uma solução que está integrada ao modelo de negócio e orienta toda a operação.
3. Modelo de negócio financeiramente sustentável
Diferente de projetos sociais que dependem de doações, os negócios de impacto são sustentáveis financeiramente. Eles até podem receber subsídios de fomento e realizar parcerias, mas devem se manter gerando receita a partir da venda de produtos ou serviços de impacto e operando pela lógica de mercado.
4. Compromisso com o monitoramento de impacto
Mais do que acompanhar a geração de lucro, os negócios sociais precisam monitorar e avaliar os efeitos de suas ações sobre a população e o meio ambiente, com métricas claras, transparentes e confiáveis. Assim, é possível entender se a empresa está atingindo seu objetivo socioambiental e realizar ajustes contínuos, além de aumentar a credibilidade da iniciativa e atrair investidores e parceiros.
Empreendedorismo social
Apesar de relacionados, os termos “empreendedorismo social” e “negócios de impacto” não são sinônimos. O empreendedorismo social é uma abordagem mais ampla, que se refere ao ato de empreender com o objetivo de promover transformação social. Um empreendedor social pode criar desde projetos comunitários e organizações sem fins lucrativos até empresas formais.
Já os negócios de impacto ou empresas B são uma vertente do empreendedorismo social com uma característica específica: são empreendimentos sociais que geram receita por meio da venda de produtos ou serviços. Portanto, todo negócio de impacto surge de um impulso de empreendedorismo social, mas nem todo empreendedor social desenvolve um negócio de impacto.
Desafio de equilibrar lucro e responsabilidade social
Um dos maiores desafios dos negócios de impacto é manter o equilíbrio entre a lógica de mercado e a transformação social. Essas empresas se propõem a resolver problemas socioambientais, ao mesmo tempo em que precisam gerar receita para garantir sua sustentabilidade e capacidade de escala — sem perder de vista sua missão original: o impacto positivo.
Nesse cenário, destaca-se a Carta de Princípios para Negócios de Impacto no Brasil, documento lançado em 2015 que se tornou referência para orientar o setor e embasar políticas públicas. A partir dela, a Aliança pelo Impacto propõe quatro princípios que ajudam os empreendimentos a manter o foco no impacto:
- Compromisso com a missão socioambiental: Conhecimento profundo do problema a ser enfrentado, com base em pesquisas, escuta das comunidades e dados concretos.
- Compromisso com a lógica econômica: Modelo de negócio financeiramente viável, com validação de demanda e sustentabilidade econômica.
- Compromisso com o impacto monitorado: Avaliação contínua dos resultados, com mensuração, monitoramento e transparência sobre os efeitos gerados.
- Compromisso com a governança efetiva: Gestão alinhada ao propósito, ética, inclusiva e transparente, refletindo o impacto também na cultura interna e nas relações do negócio.
Exemplos de negócios de impacto social no combate à fome
O combate à fome é um dos maiores desafios sociais do Brasil — e também foco de atuação de negócios de impacto com propostas inovadoras. São ideias que não movimentam apenas o mercado, mas também transformam a realidade alimentar do país.
A seguir, conheça algumas iniciativas finalistas do Prêmio Pacto Contra a Fome, todas cadastradas no Hub do Pacto Contra a Fome, plataforma que reúne projetos dedicados ao enfrentamento da insegurança alimentar no país.
Comida Invisível
A Comida Invisível é uma startup social que utiliza tecnologia para conectar empresas que possuem alimentos próprios para consumo, mas que perderam valor comercial, a organizações que atendem pessoas em situação de insegurança alimentar.
Gastronomia Periférica
A Gastronomia Periférica promove inclusão e redução das desigualdades por meio da educação gastronômica em territórios periféricos, oferecendo formação profissional gratuita e de qualidade.
Muda Meu Mundo
A Muda Meu Mundo é uma plataforma tecnológica que conecta pequenos produtores rurais a mercados compradores, oferecendo soluções que facilitam a comercialização, o acesso ao crédito e a antecipação de recebíveis, além de contribuir para o fortalecimento da agricultura familiar.
Amitis
A Amitis é um negócio de impacto que atua no combate à fome por meio da instalação de hortas hidropônicas sustentáveis em escolas públicas de áreas vulneráveis. A iniciativa busca democratizar o acesso à alimentação saudável e reduzir o desperdício de alimentos.Acesse o HUB Pacto Contra a Fome para conhecer outros negócios que impactam na segurança alimentar no país.
