Entenda o que são os ODS, quais são suas metas e sua importância para a segurança alimentar e a agricultura sustentável no mundo
A fome ainda é uma realidade devastadora para milhões de pessoas ao redor do mundo. Com a criação da Agenda 2030, um plano de ação global da ONU que compromete os países participantes no cumprimento de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabeleceu-se uma meta ambiciosa para mudar esse cenário: o ODS 2.
Um dos principais objetivos nos quais o Pacto Contra a Fome atua, o ODS 2 é essencial para construir um futuro no qual todas as pessoas tenham acesso a alimentos suficientes e saudáveis, promovendo a segurança alimentar e a agricultura sustentável.
O que são os objetivos de desenvolvimento sustentável?
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são um conjunto de 17 objetivos e 169 metas que integram a Agenda 2030, um plano global adotado por 193 países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015.
A Agenda 2030 foi criada em resposta a desafios mundiais urgentes, como pobreza extrema, desigualdades sociais, degradação ambiental e mudanças climáticas. Ela busca promover o desenvolvimento das nações de forma mais sustentável, atendendo às necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade das futuras gerações de suprir suas próprias necessidades.
Esses objetivos representam um esforço coletivo para transformar o mundo. Entre suas metas, estão a erradicação da pobreza e da fome, o acesso à saúde de qualidade e educação inclusiva, a igualdade de gênero, a proteção dos direitos humanos, o uso sustentável dos recursos naturais e a luta contra as mudanças climáticas.
Os ODS são integrados, ou seja, o progresso em uma área pode impactar diretamente em outras. Sua implementação depende da cooperação entre governos, setor privado, sociedade civil e indivíduos, para garantir que ninguém seja deixado para trás.
Veja quais são os 17 ODS no nosso artigo: ODS: conheça os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
ODS 2: Fome zero e agricultura sustentável
O ODS 2 é um dos principais objetivos sustentáveis da ONU em que o Pacto Contra a Fome atua. Ele visa acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável.
A existência do ODS 2 é impulsionada por dados alarmantes sobre a insegurança alimentar no mundo. Atualmente, cerca de 733 milhões de pessoas sofrem de fome, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Essa situação é agravada por conflitos, crises econômicas e degradação ambiental.
Esse objetivo tem a capacidade de impactar diretamente a saúde e o bem-estar de pessoas do mundo inteiro, especialmente crianças e comunidades pobres. Erradicar a fome não melhora apenas a qualidade de vida da população; também influencia o desenvolvimento econômico, a paz e a sustentabilidade ambiental.
Além disso, a promoção de práticas agrícolas sustentáveis contribui para a proteção dos recursos naturais, garantindo que as futuras gerações tenham acesso a alimentos seguros e nutritivos.
Fome zero e segurança alimentar
A fome é uma condição caracterizada pela falta de acesso a alimentos em quantidade suficiente para atender às necessidades nutricionais diárias de uma pessoa. Não se trata apenas da sensação de fome momentânea, mas sim de uma privação contínua que afeta a saúde física e mental, podendo levar a deficiências nutricionais graves e à morte.
Conforme dados da FAO, a fome afeta 1 em cada 11 pessoas no mundo, prejudicando o crescimento, a capacidade de aprendizado e a produtividade. Esse número cresce devido a fatores como conflitos, mudanças climáticas, crises econômicas e desigualdades sociais.
Na outra ponta está a segurança alimentar. Segundo a definição da ONU, a segurança alimentar existe quando todas as pessoas, em todos os momentos, têm acesso físico, social e econômico a alimentos suficientes, seguros e nutritivos que satisfaçam suas necessidades dietéticas e preferências alimentares para uma vida ativa e saudável.
O que é agricultura sustentável?
A agricultura sustentável é um sistema de produção de alimentos que atende às necessidades atuais de consumo sem comprometer as das futuras gerações. Esse tipo de agricultura busca equilibrar a produção agrícola com a conservação dos recursos naturais.
Ela tem como princípios ser tecnicamente apropriada, economicamente viável e socialmente aceitável. Suas práticas protegem o meio ambiente, mantêm a saúde do solo, preservam a biodiversidade e melhoram a qualidade de vida dos agricultores e das comunidades rurais.
Ao adotar práticas que conservam os recursos naturais, é possível aumentar a resiliência dos sistemas agrícolas. Além disso, a agricultura sustentável contribui para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
Metas e indicadores do ODS 2
O ODS 2 estipula cinco metas e três submetas que abordam em detalhes os esforços para erradicar a fome e promover práticas agrícolas sustentáveis. Cada meta é acompanhada por indicadores específicos, que monitoram o progresso rumo ao cumprimento dos objetivos até 2030.
Conheça as metas do ODS 2 e seus indicadores:
- Meta 2.1. Acabar com a fome e garantir o acesso de todas as pessoas a alimentos seguros, nutritivos e suficientes durante todo o ano.
- Indicadores: Prevalência de subalimentação e insegurança alimentar moderada ou grave.
- Meta 2.2. Acabar com todas as formas de desnutrição e atender às necessidades nutricionais dos adolescentes, mulheres grávidas e lactantes e pessoas idosas.
- Indicadores: Prevalência de malnutrição e de atrasos no crescimento de crianças.
- Meta 2.3. Dobrar a produtividade agrícola e a renda dos pequenos produtores de alimentos.
- Indicadores: Produtividade agrícola e renda média dos pequenos produtores.
- Meta 2.4. Garantir sistemas sustentáveis de produção de alimentos e implementar práticas agrícolas resilientes.
- Indicador: Proporção de áreas agrícolas praticando agricultura produtiva e sustentável.
- Meta 2.5. Até 2020, manter a diversidade genética de sementes, plantas cultivadas, animais de criação e domesticados e suas respectivas espécies selvagens.
- Indicadores: Número de recursos genéticos conservados e proporção de raças locais em risco de extinção.
- Submeta 2.a. Aumentar o investimento em infraestrutura rural, pesquisa e extensão de serviços agrícolas, desenvolvimento de tecnologia, e os bancos de genes de plantas e animais.
- Indicadores: Investimentos em serviços agrícolas e tecnologias rurais.
- Submeta 2.b. Corrigir e prevenir as restrições ao comércio e distorções nos mercados agrícolas mundiais.
- Indicador: Nível de subsídios agrícolas.
- Submeta 2.c. Adotar medidas para garantir o funcionamento adequado dos mercados de commodities de alimentos e seus derivados.
- Indicador: Índice de anomalias dos preços de alimentação.
Fome zero e agricultura sustentável no Brasil
O Brasil tem um histórico significativo na luta contra a fome e na promoção de práticas agrícolas sustentáveis. No início dos anos 2000, o país foi reconhecido mundialmente por suas políticas públicas de combate à fome, especialmente pelo programa Fome Zero, lançado em 2003.
Apesar dos avanços conquistados, o Brasil ainda enfrenta desafios significativos para garantir o acesso universal a alimentos nutritivos e suficientes. Após o sucateamento de programas sociais e os impactos da pandemia de Covid-19, o Brasil voltou ao Mapa da Fome em 2022.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 64 milhões de brasileiros conviveram com algum nível de insegurança alimentar em 2023, ou seja, não tiveram acesso a alimentos suficientes, seguros e nutritivos para uma vida saudável.
Como um dos signatários da Agenda 2030, o Brasil tem o compromisso de reverter essa situação buscando as metas do ODS 2. Atualmente, um dos principais programas da luta contra a fome no país é o Bolsa Família, um programa de transferência de renda para famílias em situação de vulnerabilidade social.
O governo também tem investido no fortalecimento de políticas públicas voltadas à agricultura familiar, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
Mais uma iniciativa é o Plano de Adaptação e Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC+), que visa promover tecnologias e práticas agrícolas sustentáveis que ajudem a mitigar as mudanças climáticas e aumentar a resiliência dos sistemas produtivos.
Outras ações em prol do ODS 2 incluem a ampliação do acesso ao crédito rural, especialmente para pequenos agricultores, e o fortalecimento de programas de assistência técnica e extensão rural.
As organizações não governamentais (ONGs) também têm sido importante nessa luta, como o Pacto Contra a Fome, que engaja e apoia soluções permanentes para a erradicação da fome e a redução do desperdício de alimentos no país.
