À medida que as mudanças climáticas avançam, não é só a temperatura que aumenta. Seja nas secas que atingem a Amazônia ou nas enchentes do Rio Grande do Sul, os impactos são mais evidentes.
Essas alterações afetam diretamente os ecossistemas, prejudicando a produção e a distribuição de alimentos. O reflexo disso chega à mesa dos brasileiros na forma de escassez e alimentos mais caros.
Saiba mais sobre as causas e efeitos das mudanças climáticas e entenda como elas agravam a insegurança alimentar no mundo.
O que são mudanças climáticas
As mudanças climáticas são alterações gradativas nos padrões de temperatura e clima da Terra. Elas não são novidade: o clima do planeta já passou por diversas variações naturais ao longo de milhões de anos, com períodos de resfriamento e aquecimento.
No entanto, o atual aquecimento global não segue esse padrão natural – ele é resultado direto das atividades humanas. Desde a Revolução Industrial, no século 19, a queima de combustíveis fósseis, o desmatamento e a expansão da agropecuária emitiram quantidades crescentes de gases que intensificam o efeito estufa.
Esse processo tem aquecido o planeta em um ritmo alarmante e sem precedentes, acelerando as mudanças climáticas. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a temperatura média global já aumentou cerca de 1,1°C desde a era pré-industrial, e pode ultrapassar 1,5°C até meados do século 21.
Mas as mudanças climáticas vão além do aumento da temperatura média global; elas potencializam fenômenos climáticos extremos, como secas, enchentes e furacões, além de causar impactos nos ecossistemas e na vida humana.
Causas das mudanças climáticas
A Terra sempre experimentou variações naturais de clima ao longo de ciclos geológicos, influenciadas por fatores como: alterações nos padrões de rotação e órbita da Terra, atividade solar, erupções vulcânicas e mudanças naturais nos oceanos e atmosferas – como os fenômenos El Niño e La Niña.
Entretanto, as causas naturais pouco contribuem para as mudanças climáticas atuais. A aceleração do processo está diretamente ligada às atividades do ser humano. Entre as principais ações humanas responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa (GEE), estão:
- Queima de combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás natural: responsável por uma grande parte das emissões de dióxido de carbono;
- Desmatamento: a remoção de florestas diminui a capacidade do planeta de absorver dióxido de carbono;
- Agricultura e pecuária: a pecuária é uma das maiores fontes de metano. A agricultura, em particular a produção de arroz e a fertilização excessiva, também libera óxidos de nitrogênio;
- Indústria e resíduos: a indústria emite dióxido de carbono e gases fluorados, enquanto a gestão inadequada de resíduos aumenta a emissão de metano dos aterros sanitários.
Efeitos das mudanças climáticas
Os efeitos da crise climática já são visíveis em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil. Secas severas castigam a Amazônia, reduzindo o nível dos rios e prejudicando comunidades ribeirinhas, enquanto chuvas intensas no Sul do país provocam enchentes e deslizamentos. Além disso, incêndios florestais, furacões, ciclones e a escassez de água têm se tornado cada vez mais frequentes, destruindo colheitas e impactando milhões de pessoas.
O aquecimento global também acelera o derretimento das geleiras, elevando o nível do mar e ameaçando cidades costeiras. A biodiversidade sofre com essas mudanças, levando à extinção de espécies e ao colapso de ecossistemas inteiros, como os recifes de corais.
Como as mudanças climáticas afetam a fome?
As mudanças climáticas são um dos fatores que agravam a insegurança alimentar ao redor do mundo. De acordo com o último relatório “O Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo”, cerca de 733 milhões de pessoas enfrentaram a fome em 2023.
E essa realidade pode piorar: segundo Volker Turk, alto comissário da Organização das Nações Unidas (ONU) para Direitos Humanos, a crise climática pode colocar 80 milhões de pessoas a mais em risco de fome até a metade do século.
Isso porque as mudanças climáticas afetam toda a cadeia de produção e distribuição de alimentos. As secas, por exemplo, reduzem drasticamente a disponibilidade de água para irrigação, o que danifica a produção agrícola. Na região amazônica, a seca severa baixou o nível dos rios, dificultando o transporte de alimentos e deixando comunidades ribeirinhas e indígenas até sem água para beber.
Enquanto isso, outras regiões enfrentam chuvas fortes e enchentes. É o caso do estado do Rio Grande do Sul, onde as tempestades e enchentes têm destruído plantações como arroz e soja, prejudicando agricultores e encarecendo esses alimentos no mercado.
O aumento da temperatura ainda impacta algumas culturas, como o café, que depende de temperaturas mais amenas, além de comprometer a criação de animais, aumentando o estresse térmico no gado leiteiro e reduzindo a produção de leite e carne.
Estradas alagadas, deslizamentos de terra e infraestrutura danificada também dificultam o transporte de produtos, provocando desperdício de alimentos e aumentando os custos logísticos. Isso se reflete nos preços dos alimentos, tornando a comida menos acessível para as famílias mais pobres.
Além disso, a escassez de alimentos in natura leva ao maior consumo de ultraprocessados, que são mais baratos e acessíveis. Isso compromete a qualidade da alimentação e contribui para a obesidade e o desenvolvimento de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão.
Assim, as mudanças climáticas desestabilizam os sistemas alimentares, causando um efeito cascata que reduz a oferta de alimentos, eleva os preços e aumenta a insegurança alimentar. Esse cenário afeta principalmente as populações mais vulneráveis, que já enfrentam dificuldades para garantir uma alimentação adequada.
Progresso no combate às mudanças climáticas
A ONU reconhece que houve avanço no combate às mudanças climáticas desde o Acordo de Paris, em 2015, quando 196 países assumiram o compromisso de limitar o aquecimento global a 1,5ºC. Entretanto, a situação é preocupante e exige uma intensificação das ações climáticas para chegar nesse resultado.
Em 2023, o relatório da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança Climática (UNFCCC) alertou que as metas de redução de emissões da maioria dos países ainda não estão alinhadas com os objetivos do Acordo de Paris, sendo que a maior parte dos compromissos visa um aquecimento de 2ºC ou mais.
Em 2024, o Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2024, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), continuou a destacar a urgência de uma aceleração das políticas de redução de emissões.
O documento ainda aponta que a falta de ambição nas promessas de redução de emissões dos países que compõem o G20 limita o progresso global, uma vez que eles são responsáveis por uma grande parcela das emissões do mundo.Para evitar cenários mais devastadores, a ONU reivindica ações imediatas, sobretudo nos setores mais poluentes, como energia, transporte e agricultura. Além de melhores políticas climáticas, é essencial que os países invistam na transição para energias renováveis, na implementação de soluções baseadas na natureza e na aceleração da inovação tecnológica.