Alimentos orgânicos vão além da escolha saudável

Entenda o que são alimentos orgânicos, como identificá-los, quais são seus benefícios e a importância da agricultura orgânica no Brasil

Escolher produtos orgânicos é uma decisão que impacta a saúde, o meio ambiente e a economia. Mas apesar de serem uma tendência e uma alternativa mais saudável, eles ainda não são acessíveis para a maior parte da população.

Entretanto, de acordo com a pesquisa “Panorama do Consumo de Orgânicos no Brasil 2023”, realizada pela Brain Inteligência Estratégica, 46% da população brasileira já consome esse tipo de alimento; um crescimento de 16% em dois anos. Do outro lado da cadeia, mais de 25 mil produtores estão colocando as técnicas que respeitam o meio ambiente e a sustentabilidade, que caracterizam a produção orgânica, em prática.

Entenda o que são alimentos orgânicos, como identificá-los, seus benefícios para a saúde e o papel da agricultura orgânica no Brasil.

O que são alimentos orgânicos

Os alimentos orgânicos são produtos cultivados e processados sem o uso de contaminantes, como agrotóxicos, fertilizantes químicos, transgênicos, substâncias sintéticas ou radioativas, antibióticos e hormônios artificiais. 

Sim, tudo isso é utilizado, em maior ou menor quantidade, na produção de diversos alimentos no Brasil – os produtos não orgânicos são modificados para resistir a pragas, se adaptar a diferentes ambientes, ter maior rendimento e durabilidade. 

Segundo dados da plataforma FAOSTAT da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Brasil lidera o ranking mundial de uso de agrotóxicos na agricultura, com mais de 800 mil toneladas aplicadas, ultrapassando países como Estados Unidos, Indonésia e China.

Além de não utilizar esses agrotóxicos, a produção orgânica prioriza práticas que respeitam o meio ambiente, a biodiversidade, o bem-estar animal e a saúde humana, tanto de quem consome quanto de quem trabalha no campo. Isso resulta em alimentos de maior qualidade nutricional, mais saborosos e sem resíduos químicos, ou seja, mais saudáveis.

Para isso, ao contrário da agricultura convencional, o cultivo orgânico adota métodos naturais – como adubação com compostos orgânicos, rotação de culturas, controle biológico de pragas, cobertura vegetal do solo, uso de sementes crioulas e compostagem de resíduos.

No caso dos alimentos de origem animal, como ovos, leite e carnes, o sistema orgânico estabelece que os animais devem ser criados livres de antibióticos e hormônios, em ambientes que garantam espaço suficiente para sua circulação, bem-estar e alimentação natural.

Exemplos de produtos orgânicos

Os exemplos de produtos orgânicos mais comuns são as frutas, cereais, hortaliças, legumes, leguminosas e óleos vegetais. Tomate, alface, cenoura, maçã, arroz, banana, abóbora, espinafre, brócolis, pepino, feijão, lentilha, abacaxi, morango, quinoa e azeite de oliva são alguns exemplos

Na pecuária, diversos animais são criados livres e sua carne é processada sem o uso de hormônios, antibióticos ou substâncias químicas artificiais. Entre as carnes orgânicas mais comuns estão a de boi, frango e porco, além da produção de ovos e leite nos mesmos parâmetros.

Além disso, existem ainda os alimentos orgânicos industrializados, como pães, biscoitos, sucos e molhos, produzidos com ingredientes orgânicos e sem adição de substâncias químicas artificiais, o que preserva a qualidade nutricional natural dos alimentos.

Como identificar alimentos orgânicos?

Os alimentos orgânicos costumam ser menores e com um aspecto menos uniforme do que os produtos convencionais, que tendem a ser maiores e mais bonitos – às custas de agrotóxicos e fertilizantes artificiais.

Para além da aparência, um alimento só é considerado orgânico se apresentar o selo “Produto Orgânico Brasil”, que comprova que foi cultivado sem agrotóxicos, utilizando fertilizantes naturais e respeitando as normas ambientais e sociais estabelecidas.

A certificação é concedida pelo Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (SisOrg), criado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para controlar a produção de orgânicos no país.

Para conquistar o selo verde, o alimento deve cumprir uma série de exigências no processo produtivo, respeitando o uso responsável do solo, da água, do ar e outros recursos naturais, e promovendo relações sociais e culturais sustentáveis.

O selo oficial garante que o alimento foi produzido de acordo com as práticas orgânicas e contém, no máximo, 5% de ingredientes não orgânicos. Os produtos que não atendem a esse critério ou que têm menos de 70% de ingredientes orgânicos não recebem a certificação.

Alimentos orgânicos são mais saudáveis?

O uso de agrotóxicos tem diversas consequências negativas. Eles afetam a qualidade dos alimentos, prejudicam a saúde de quem está no campo e causam desequilíbrios no meio ambiente, como a contaminação de rios, o empobrecimento do solo e a perda da biodiversidade local.

O principal benefício da agricultura orgânica é evitar os compostos químicos, o que torna os alimentos orgânicos mais saudáveis. Veja outras vantagens do consumo de produtos orgânicos:

  • Redução significativa da ingestão de resíduos tóxicos;
  • Conservação do solo;
  • Redução da poluição do ar e da água;
  • Conservação dos ecossistemas locais;
  • Promoção da biodiversidade;
  • Priorização do bem-estar animal;
  • Valorização da agricultura familiar e das comunidades rurais;
  • Condições de trabalho mais justas e melhoria da qualidade de vida no campo;
  • Fortalecimento de mercados locais;
  • Estímulo ao consumo consciente e responsável;
  • Alimentos mais saborosos e nutritivos.

Importância dos alimentos orgânicos no Brasil

A agricultura orgânica no Brasil foi formalmente estabelecida pela Lei 10.831, de 2003, e regulamentada quatro anos depois, em 2007. Desde então, esse modelo de produção tem crescido, especialmente na agricultura familiar. Em 2012, havia 5,9 mil produtores de alimentos orgânicos cadastrados no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Atualmente, são mais de 25 mil agricultores registrados.

Essa modalidade de cultivo é uma alternativa importante para os pequenos agricultores, que, por meio dela, conseguem acessar mercados mais valorizados e garantir uma renda melhor, além de mais qualidade de vida no campo.

Ao escolher produtos orgânicos, os consumidores contribuem diretamente para esse mercado, para a preservação da biodiversidade, o uso responsável dos recursos naturais e a garantia da qualidade de vida das futuras gerações – práticas alinhadas com a chamada agroecologia.

No entanto, uma das principais barreiras para a comercialização dos alimentos orgânicos ainda é o preço mais elevado em relação aos produtos convencionais, especialmente nas grandes redes de supermercados, onde prevalece a lógica da oferta e da procura. Além disso, diferentemente dos alimentos convencionais, esses produtos não têm benefícios fiscais.

Fora das grandes redes de supermercados, como nas feiras livres e sacolões, os valores podem ser diferentes. A pesquisa “Produtos sem veneno são sempre mais caros?”, da Rede Brasileira de Grupos de Consumo Responsável (GCR), apontou que, em 2016, uma cesta de produtos orgânicos estava, em média, 50% mais barata nas feiras do que nos supermercados.Para os especialistas, um dos fatores que ainda limitam a oferta de alimentos orgânicos é a falta de políticas públicas para apoiar esse modelo agrícola. Sem incentivos como crédito, assistência técnica, benefícios fiscais e infraestrutura, muitos agricultores enfrentam obstáculos para migrar para sistemas sustentáveis, o que reduz a oferta e mantém os preços elevados.

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