Conhecida por sua hospitalidade e fartura culinária, Minas Gerais enfrenta uma realidade que contrasta com sua imagem tradicional: mais de 21% dos lares mineiros convivem com algum grau de insegurança alimentar.
Neste artigo, confira os dados mais recentes sobre a fome em Minas Gerais, os avanços registrados nos últimos anos e as ações em andamento para garantir a segurança alimentar no estado.
Dados sobre a fome em Minas Gerais
Em 2023, havia um contingente de mais de 64 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar no Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Proporcionalmente, as regiões mais afetadas pela fome no país são o Norte e o Nordeste, onde o acesso insuficiente à alimentação atinge 39,7% e 38,8% dos lares, respectivamente. Essa parte do país abriga todos os estados que estão acima da média nacional de domicílios em condições mais graves de restrição, como o Pará, o Ceará e o Maranhão.
Já em números absolutos, a maior parte dos famintos do Brasil residem no populoso estado de São Paulo, onde quase 12 milhões de paulistas viviam com falta de acesso regular a alimentos. No ranking de estados com maior número de pessoas em insegurança alimentar também estão os estados da Bahia e de Minas Gerais.
Em 2023, o estado de Minas Gerais registrou mais de 5 milhões de pessoas convivendo com a falta de alimentos — o que equivale a 23,3% da população mineira. Para a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), a situação de privação alimentar é dividida em três níveis: leve, moderado e grave.
A maioria desses mineiros, 3,6 milhões, enfrentaram o grau leve da insegurança alimentar. Nesse nível, as famílias já têm incertezas sobre o acesso à comida no futuro e precisam reduzir a qualidade da alimentação, optando por produtos mais baratos e menos nutritivos.
Para outras 826 mil pessoas, a situação se agravou a ponto de chegar ao grau moderado. Isso significa que essas famílias começaram a reduzir a quantidade de alimentos consumidos, e os adultos, em especial, passaram a comer menos ou pular refeições.
Na insegurança alimentar grave é quando acontece a fome real: falta comida de forma recorrente, e as pessoas passam um dia ou mais sem comer por falta de recursos. Cerca de 566 mil mineiros enfrentaram a fome no dia a dia em 2023.
Relação entre a pobreza e a insegurança alimentar
A pobreza é uma das principais causas da insegurança alimentar, uma vez que limita o acesso regular a alimentos em quantidade e qualidade suficientes para uma vida saudável. Famílias pobres muitas vezes precisam escolher entre pagar contas básicas ou comprar comida — uma restrição orçamentária que pode levar à fome.
Além disso, a pobreza está frequentemente associada à falta de acesso a serviços essenciais, como educação, saneamento e saúde, que também influenciam diretamente a capacidade das pessoas de garantir sua própria alimentação de forma digna e sustentável.
Na pesquisa Síntese de Indicadores Sociais (SIS) de 2023, o estado de Minas Gerais apresentou os menores índices de pobreza e extrema pobreza desde 2012, quando a pesquisa começou a ser feita pelo IBGE.
Entre 2022 e 2023, a taxa de pessoas vivendo na pobreza em Minas Gerais caiu de 27% para 19,8%. A linha da pobreza é definida pela renda mensal inferior a R$ 667 por pessoa, conforme os critérios do Banco Mundial.
Já o percentual de pessoas extremamente pobres diminuiu de 3,2% para 2,2%. São classificadas abaixo da linha da extrema pobreza as famílias com renda per capita menor que R$ 209 mensais.
Para medir com mais precisão os níveis de pobreza da população mineira, o governo estadual criou o Índice de Pobreza Multidimensional de Minas Gerais (IPM Minas). Diferente da pobreza monetária, calculada apenas pela renda, a pobreza multidimensional é determinada por vários indicadores, nas dimensões de saneamento básico, padrão de vida, educação e trabalho.
Segundo os dados mais recentes do IPM Minas, a pobreza monetária atinge 3,4 milhões de mineiros. Já as famílias consideradas em situação de pobreza multidimensional, que têm o valor do IPM maior ou igual a 0,33, somam 1,4 milhão de pessoas.
O painel do IPM Minas ainda traz o número de indivíduos vivendo em uma condição ainda mais grave: a pobreza crônica, quando as pessoas são afetadas simultaneamente tanto pela pobreza monetária quanto pela pobreza multidimensional. De acordo com a plataforma, são 764 mil pessoas nessa situação no estado.

Ações de promoção da segurança alimentar em MG
Os números da fome em Minas Gerais vêm apresentando queda desde os levantamentos realizados em 2017 e 2018. A incidência de mineiros em situação de insegurança alimentar moderada e grave caiu de 9,4% em 2018 para 6,6% em 2023.
Uma das políticas públicas estaduais que contribuem para essa melhora é o incentivo à adesão dos municípios ao Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), instrumento fundamental para o monitoramento e a avaliação das ações na área.Por intermédio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), o governo estadual também atua no fortalecimento da rede de segurança alimentar ao apoiar a modernização de bancos de alimentos, cozinhas comunitárias e solidárias, além de promover projetos de inclusão produtiva por meio da agricultura familiar.