Desnutrição: impactos da carência nutricional na saúde

A desnutrição tem diversos tipos, causas e consequências. Entenda como ela afeta crianças e adultos e como combatê-la

A desnutrição ocorre quando o acesso a uma alimentação adequada e nutritiva é comprometido. Esse problema tem sérios impactos na saúde e no desenvolvimento das pessoas, especialmente das crianças, sendo capaz de deixar danos permanentes. Ela é, também, um reflexo das desigualdades que afetam milhões de pessoas ao redor do mundo. 

Entenda as dimensões do problema, seus tipos, causas e seus impactos na saúde de crianças e adultos, além das estratégias para combatê-la.

O que é desnutrição?

A desnutrição é um termo amplo que descreve qualquer desequilíbrio nutricional que comprometa a saúde. Ela inclui tanto a subnutrição, caracterizada por uma alimentação insuficiente em nutrientes, quanto a supernutrição, que pode levar ao sobrepeso e obesidade pelo excesso de alimentos que, apesar de calóricos, não possuem nutrientes suficientes.

Esses dois lados da má nutrição são uma realidade em muitos países, onde as pessoas enfrentam, simultaneamente, a fome e a obesidade por causa de dietas de baixa qualidade; ricas em calorias, mas pobres em nutrientes.

Entretanto, historicamente, a desnutrição é mais associada à subnutrição. Isso porque suas consequências são questões críticas de saúde pública, que têm impactos imediatos e graves. Por isso, vamos focar nessa dimensão da desnutrição, relacionada com a fome e a insegurança alimentar.

De acordo com o relatório “O Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo” (SOFI), cerca de 733 milhões de pessoas estavam desnutridas no mundo em 2023, o que indica que, mundialmente, retrocedemos 15 anos nos níveis de desnutrição.

A desnutrição pode afetar todas as pessoas, mas alguns grupos são mais vulneráveis a desenvolvê-la, como as crianças menores de cinco anos, idosos, mulheres grávidas ou lactantes, e pessoas com doenças crônicas, como câncer, aids ou depressão. Ela acontece quando a alimentação é inadequada ou quando há dificuldades na absorção dos nutrientes.

Os principais sintomas do problema incluem, baixa energia, atraso no desenvolvimento, maior vulnerabilidade a infecções e dificuldade de concentração. Além disso, uma pessoa desnutrida pode apresentar anemia, diarreias frequentes, problemas no cabelo, na pele e nos ossos, alterações psicológicas, diminuição da temperatura corporal e inchaços pelo corpo.

Esses sintomas não só comprometem sua qualidade de vida, como podem causar danos irreversíveis. Em casos mais graves, se não tratada, a desnutrição pode levar à morte.

Tipos de desnutrição

No caso da desnutrição pela falta de nutrientes, ou desnutrição proteico-calórica, existem três tipos de desnutrição: o marasmo, o kwashiorkor e a combinação de ambos, chamada de kwashiorkor marasmático. 

Cada uma dessas condições é caracterizada por uma deficiência específica de nutrientes, com impactos diferentes na saúde:

  • Marasmo: uma desnutrição severa caracterizada pela perda extrema de peso. Ela resulta em uma aparência excessivamente magra, sem gordura corporal visível, fraqueza muscular, atraso no crescimento e enfraquecimento do sistema imunológico.
  • Kwashiorkor: ocorre quando há uma ingestão insuficiente de proteínas, mesmo sem perda aparente de peso. Seu principal sinal é o inchaço que ocorre pela retenção de líquidos nos tecidos, principalmente nas pernas, pés e abdômen. Outros sintomas são lesões na pele, cabelo enfraquecido, apatia, problemas no fígado e complicações no desenvolvimento e no sistema imunológico.
  • Kwashiorkor marasmático: acontece quando a pessoa sofre tanto de uma deficiência grave de calorias quanto de proteínas, sendo a forma mais grave de desnutrição proteico-calórica. Esse quadro apresenta características do marasmo e também do kwashiorkor, como perda de peso e inchaço. 

Causas da desnutrição

A maior causa da desnutrição é a pobreza, já que a falta de recursos limita o acesso a alimentos adequados e nutritivos e leva à insegurança alimentar.

A insegurança alimentar ocorre quando as pessoas não têm acesso a alimentos suficientes e saudáveis, o que pode variar desde a escassez total de comida até uma alimentação limitada e desequilibrada.

Sem condições financeiras para comprar alimentos de qualidade, muitas famílias recorrem a dietas com baixo valor nutricional, que não atendem às necessidades do organismo e, portanto, podem causar desnutrição. 

Outro fator que pode ocasionar a desnutrição são as doenças crônicas, como HIV e câncer; doenças infecciosas, como diarreia; e distúrbios digestivos que dificultam a absorção de nutrientes ou aumentam as necessidades do corpo por calorias e proteínas.

A doença também pode ser causada por práticas alimentares inadequadas ligadas a culturas alimentares específicas e à falta de conhecimento sobre nutrição. A falta de políticas públicas adequadas de apoio social e educação alimentar agrava o problema, sobretudo em regiões afetadas pela desigualdade social, conflitos e desastres naturais.

Desnutrição infantil

A desnutrição durante a infância é um dos maiores desafios da saúde pública, especialmente em países em desenvolvimento. Isso porque suas consequências nas crianças são graves e de longo prazo, como atraso no crescimento, redução no desenvolvimento cognitivo e aumento da mortalidade.

As crianças são mais vulneráveis à desnutrição porque estão em uma fase de rápido crescimento e desenvolvimento, por isso, têm maiores necessidades nutricionais em comparação aos adultos. Assim, seu organismo exige uma quantidade maior de calorias, proteínas e micronutrientes para garantir um desenvolvimento físico e cerebral ideal, e qualquer deficiência pode comprometê-los.

Além disso, o sistema imunológico das crianças ainda está em desenvolvimento, o que torna o corpo delas mais suscetível a infecções como diarreia e doenças respiratórias. Essa vulnerabilidade cria um ciclo vicioso: as doenças pioram a desnutrição, e a desnutrição aumenta o risco de novas infecções.

Por isso, iniciativas como a amamentação exclusiva nos primeiros seis meses de vida e a oferta de alimentos ricos em nutrientes desde a introdução alimentar são tão importantes para a saúde das crianças.

Entre janeiro e maio de 2024, o Brasil registrou 2.424 internações por desnutrição infantil, segundo um estudo realizado com dados do Sistema Único de Saúde (SUS). Outras pesquisas ainda revelam que a desnutrição atinge mais crianças negras e indígenas.

Consequências da desnutrição

A desnutrição tem consequências graves para a saúde no curto e no longo prazo. Quando o corpo não recebe os nutrientes necessários para funcionar corretamente, seus sistemas começam a falhar, afetando a saúde física e mental.

Os efeitos imediatos da desnutrição incluem perda de peso, fraqueza, fadiga constante, dificuldade de concentração e de realizar tarefas cotidianas. No longo prazo, as consequências da desnutrição podem resultar em deficiências permanentes, como atrasos no desenvolvimento mental e problemas de aprendizagem em crianças e o surgimento de doenças crônicas, como doenças cardiovasculares, diabetes e osteoporose em adultos. 

A desnutrição também tem impactos psicológicos significativos, como irritabilidade, dificuldades cognitivas e depressão.

Em casos extremos, como no marasmo ou no kwashiorkor, o corpo não consegue mais manter funções vitais, o que pode levar à morte por falência de múltiplos órgãos ou complicações de doenças secundárias.

Mas as consequências da desnutrição extrapolam a saúde e chegam ao campo do desenvolvimento econômico; uma população desnutrida tem pouca produtividade no trabalho, o que afeta negativamente a economia local. Além disso, as despesas com o tratamento de doenças relacionadas à desnutrição elevam os gastos públicos com saúde.

Combate à desnutrição no Brasil e no mundo

O combate à desnutrição faz parte da luta contra a fome, e demanda ações coordenadas entre governos, empresas, organizações internacionais e sociedade civil. 

No Brasil, programas como o Bolsa Família, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) ajudam a reduzir a insegurança alimentar, promovendo o acesso a alimentos nutritivos e frescos. Além disso, ações educativas, como o incentivo à amamentação exclusiva, são essenciais para prevenir a desnutrição infantil.

Em âmbito global, organizações como o Programa Mundial de Alimentos (PMA), da Organização das Nações Unidas (ONU), e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) organizam esforços internacionais no fornecimento de alimentos, tratamento da desnutrição e na educação nutricional em áreas afetadas pela fome. No entanto, o combate à desnutrição demanda uma ação coordenada em suas causas estruturais, como a pobreza, a desigualdade e a falta de serviços básicos como educação, saúde e saneamento. Promover equidade e condições de vida dignas é essencial para garantir acesso a uma alimentação adequada e segurança alimentar para todos e todas.

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