Fome em São Paulo: maior número absoluto de famintos no país

Veja os dados sobre a fome em São Paulo e as iniciativas de promoção da segurança alimentar no estado, incluindo a atuação do Pacto Contra a Fome

O estado de São Paulo, motor econômico do Brasil e lar de mais de 46 milhões de pessoas, também é o estado com o maior número absoluto de brasileiros passando fome. Enquanto impulsiona a produção, o consumo e a inovação, o território também abriga quase 12 milhões de habitantes em situação de insegurança alimentar.

Confira os dados atualizados sobre a fome em São Paulo e as iniciativas de promoção da segurança alimentar em andamento no estado, incluindo a atuação do Pacto Contra a Fome.

Números da insegurança alimentar no estado de São Paulo

De acordo com os últimos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), feita em 2023 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 64 milhões de brasileiros estavam em situação de insegurança alimentar no país.

Em proporção, as regiões mais afetadas pela fome no país são o Norte e o Nordeste, nas quais a insegurança alimentar atinge 39,7% e 38,8% dos lares, respectivamente. As duas regiões reúnem todos os estados que superam a média nacional de lares em condições mais severas, como o Pará, o Ceará e o Maranhão.

Na outra ponta da escala nacional, está a região Sul, onde a privação alimentar alcança 16,6% dos domicílios. Na sequência, vem o Sudeste, com 23% de seus lares convivendo com a insegurança alimentar.

Entretanto, em termos absolutos, o cenário muda. Por ser o estado mais populoso do país, São Paulo reúne a maior quantidade de pessoas convivendo com a falta de alimentos. Na liderança do ranking da fome em valores absolutos, o estado registrou quase 12 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar em 2023 — o que representa 25,5% da população paulista.

A maior parte dessas pessoas, 8,7 milhões, lidaram com o nível leve da insegurança alimentar, caracterizado pela preocupação ou incerteza quanto ao acesso a alimentos no futuro, sem que ainda haja comprometimento real da qualidade ou quantidade da comida consumida.

Outros 1,8 milhões vivenciaram o nível moderado de privação, quando começa a haver restrição na qualidade e quantidade de alimentos consumidos, especialmente entre os adultos da casa.

A insegurança alimentar se intensifica no nível grave, no qual a escassez piora a ponto de comprometer a alimentação de todos na residência, inclusive das crianças — a fome passa a ser uma realidade cotidiana. Em 2023, cerca de 1,3 milhão de pessoas lidaram com a fome no estado de São Paulo.

Situação da pobreza em São Paulo

A pobreza é um dos principais motores da insegurança alimentar, pois compromete o acesso regular e suficiente a alimentos de qualidade. Quando a renda de uma família não cobre as necessidades básicas, a alimentação costuma ser uma das primeiras a sofrer restrições.

De acordo com análises da Fundação Seade, com base nos dados da PNAD Contínua, 7,8 milhões de paulistas viviam abaixo da linha da pobreza em 2023, com renda inferior a R$ 667 mensais por pessoa, conforme os critérios do Banco Mundial. Outro 1 milhão estava em situação de extrema pobreza, com renda per capita menor que R$ 209.

Entre 2022 e 2023, o percentual da população paulista vivendo em situação de pobreza caiu de 19,6% para 16,5% — mesma proporção registrada em 2014, a menor da série histórica. Em números absolutos, isso representa cerca de 1,4 milhão de pessoas que deixaram a linha da pobreza no estado.

Segundo a Seade, a redução da pobreza no estado está relacionada ao crescimento da economia, a criação de empregos e o aumento da renda entre os mais pobres, além do fortalecimento dos programas de transferência de renda e da previdência social.

Fome na cidade de São Paulo atinge metade da população

A cidade mais rica do país convive com uma dura realidade: cerca de 50% da população paulistana vivia com algum grau de insegurança alimentar em 2024, segundo um estudo do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de São Paulo. Em uma metrópole de 11,5 milhões de habitantes, são cerca de 5,8 milhões de pessoas sem garantia de acesso a alimentos.

A pesquisa mostra ainda que 12% da população enfrentou insegurança alimentar grave — quando a fome faz parte da rotina. Outros 13% viviam em situação moderada, o que representa 1,5 milhão de pessoas. Já a insegurança leve afetava 24% da população, ou seja, um em cada quatro paulistanos vivia sob constante incerteza sobre o que iria comer nos próximos dias.

A desigualdade territorial é um dos principais marcadores da fome na capital paulista. Nas periferias da cidade, concentram-se 72% dos casos de insegurança alimentar grave, enquanto o centro apresenta os menores índices. Em habitações improvisadas, o problema é ainda mais grave: 73,3% dos domicílios desse tipo enfrentaram fome. Nas áreas ocupadas ou invadidas, o índice é de 44,9%.

Outro dado que revela o peso do custo de vida da capital é o comprometimento do orçamento doméstico. Cerca de 65% dos moradores afirmaram ter deixado de comprar alimentos para pagar contas básicas. Um em cada três recorreu ao parcelamento de compras, empréstimos ou cartão de crédito para conseguir comer.

O estudo ainda apontou que a maioria das pessoas que conviviam com a fome não recebia apoio direto de políticas públicas: 76,3% não tinham acesso a restaurantes populares ou cozinhas solidárias, 68,3% não recebiam Bolsa Família e 89,5% não eram beneficiários do auxílio-gás.

A Prefeitura de São Paulo contestou os dados da pesquisa, alegando que os números divergem da PNAD Contínua de 2023. A gestão municipal afirmou que a cidade tem o maior conjunto de programas de segurança alimentar da América Latina. Entre as ações destacadas estão a distribuição de mais de 10 milhões de refeições prontas em 2024, além de programas como Rede Cozinha Escola, Cozinha Cidadã, Bom Prato Paulistano, Cidade Solidária, Banco de Alimentos e o Armazém Solidário.

Alternativas para enfrentar a fome em São Paulo

Assim como a capital paulista, o estado de São Paulo tem investido em políticas públicas para erradicar a pobreza e, consequentemente, mitigar a fome entre a população mais vulnerável. As ações incluem tanto programas estaduais consolidados quanto iniciativas em parceria com o governo federal e organizações da sociedade civil.

O estado conta com iniciativas como o Bom Prato, programa de restaurantes populares, e o Projeto Vivaleite, que distribui leite enriquecido com ferro e vitaminas. Essas medidas se somam a importantes programas federais como o Bolsa Família e o auxílio-gás.

Atuação do Pacto Contra a Fome em São Paulo

Em abril de 2024, o estado de São Paulo firmou uma parceria com o Instituto Pacto Contra a Fome para fortalecer essas iniciativas e ampliar o combate à fome no território paulista. 

O acordo prevê uma série de ações estruturantes, como a avaliação do Programa Bom Prato, o mapeamento dos serviços de segurança alimentar em todo o estado e a colaboração na construção de uma nova política estadual de superação da pobreza.

Além disso, o Pacto fornecerá suporte técnico para estudos sobre o perfil das pessoas em situação de insegurança alimentar, incluindo análises sobre oportunidades de geração de renda para famílias vulneráveis e o aproveitamento das atividades econômicas mais promissoras do estado.

O acordo de cooperação também inclui o georreferenciamento de equipamentos públicos e comunitários voltados à segurança alimentar, como restaurantes populares, cozinhas solidárias e bancos de alimentos. Esses dados serão integrados ao HUB do Pacto Contra a Fome, plataforma que já reúne mais de 1,4 mil iniciativas mapeadas em todo o Brasil. A ferramenta pode aumentar tanto o acesso da população a esses serviços quanto a eficiência da gestão pública, ao facilitar a análise da distribuição territorial dos equipamentos.

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