No acumulado dos últimos 12 meses, acompanhamos a trajetória de alta dos alimentos corroendo o poder de compra das famílias mais pobres. Em junho, a taxa do IPCA subiu levemente de 5,32% em maio para 5,35% em junho, ainda acima da meta do Banco Central.
O Boletim da Inflação deste mês aponta para uma mudança na composição da inflação, em que as despesas com luz, água e esgoto avançam na contramão do recuo do grupo de alimentos e bebidas.
Alimentos dão trégua, mas alívio é assimétrico
A redução reflete a safra recorde de grãos, real fortalecido e condições climáticas benignas. Entre os alimentos que contiveram a inflação, destacam-se arroz (-3,23 %), ovos (-6,58 %) e frutas (-2,19 %).
O que isso significa para o seu bolso?
Apesar da boa notícia sobre a inflação geral, não se pode esperar que isso gere uma queda automática nos preços nos supermercados. Quando se trata de redução de custos, o repasse ao consumidor não é igual para todos os produtos e em todas as situações.
A queda efetiva dos preços depende de dois fatores:
- Redução de custos: se as empresas realmente tiveram uma queda significativa nos seus próprios custos de produção ou importação;
- Sensibilidade da demanda à renda: o quanto as pessoas estão dispostas a comprar mais ou menos, dependendo das mudanças em sua renda. Se a demanda por um produto é muito sensível ao que as pessoas ganham, o comércio pode ter mais incentivo para baixar os preços e atrair mais clientes.
Acesso à alimentação saudável
Em junho de 2025, o custo da cesta NEBIN, que possui 84 itens e é composta principalmente por alimentos in natura e minimamente processados, que são a base de uma alimentação balanceada, alcançou R$423 por pessoa, valor abaixo do praticado no último trimestre.
Já em relação ao grau de processamento, de acordo com a classificação NOVA, o acumulado dos últimos 12 meses mostra variação de 6,48% para ultraprocessados e 4,41% para processados. No boletim, apresentamos a variação das 4 categorias para junho.
Análise elasticidade-renda
Nesta edição, em colaboração com o Professor Walter Belik, co-fundador do Instituto Fome Zero, trazemos a análise das elasticidades-renda da demanda para ajudar a explicar parte dos movimentos observados no Boletim de junho e entender se o recuo pode ou não se traduzir em alívio efetivo no orçamento das famílias.
Veja todos os detalhes baixando o material completo:
Como a inflação dos alimentos impacta a segurança alimentar?
Quando os alimentos ficam mais caros, milhões de famílias precisam comprometer a qualidade da sua alimentação para garantir a comida na mesa ou diminuir o tamanho do prato, com menos variedade, ou até mesmo priorizar quem precisa comer mais.
Essas situações representam a insegurança alimentar. No nível mais grave, que é a fome, as mudanças afetam a família inteira, que pode chegar a ficar um ou mais dias sem comer.
A alta de preços gera diferentes impactos para essas famílias em situação de pobreza e grupos vulnerabilizados socialmente. Isso porque o peso da alimentação no orçamento familiar é muito desigual entre as classes sociais, chegando até 61,2% dos gastos para quem tem renda de até R$2 mil.
Pensando nisso, estamos produzindo, desde janeiro de 2025, boletins mensais com dados sobre a inflação dos alimentos. O objetivo é monitorar o assunto e contribuir para uma melhor compreensão do impacto da variação dos preços no cotidiano de brasileiros e brasileiras.
