Monocultura: impactos do modelo de agronegócio brasileiro

Entenda o que é a monocultura, suas vantagens econômicas, consequências ambientais e alternativas mais sustentáveis

As monoculturas dominam a paisagem agrícola de várias regiões do Brasil, refletindo a força do setor agropecuário no país. Muito relevante economicamente, o agronegócio deve representar 21,8% do PIB nacional em 2024, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

No entanto, apesar da importância para o setor, esse modelo produtivo gera impactos ambientais e sociais significativos, como degradação do solo, consumo excessivo de água, dependência de mercados externos e concentração de terras.

Entenda o que é a monocultura, suas vantagens econômicas e consequências ambientais, além de conhecer uma alternativa mais sustentável de cultivo de alimentos.

O que é monocultura?

A monocultura é um sistema de produção caracterizado pelo cultivo de uma única espécie vegetal em larga escala, como soja ou cana-de-açúcar, por exemplo. Essas plantações utilizam grandes extensões de terras para suas lavouras, os chamados latifúndios.

Existe também a monocultura animal, quando há a criação de uma única espécie animal de forma intensiva voltada para a produção de carne ou leite, como gado bovino ou suíno, frango e peixes.

A prática da monocultura visa a produção para exportação e, portanto, a escolha da espécie a ser cultivada ou criada está relacionada ao mercado internacional, atendendo à demanda por commodities como soja, milho e carne bovina.

Esse modelo é amplamente adotado por sua lucratividade, já que permite o uso de tecnologias específicas, como sementes geneticamente modificadas, adubos, pesticidas e maquinários especializados, que aumentam a produção. Na pecuária, a monocultura facilita o manejo, a nutrição e o controle sanitário da criação.

Embora o modelo tenha vantagens econômicas e produtivas, ele também está associado a diversos impactos ambientais, como degradação do solo, perda de biodiversidade e desequilíbrio ecológico.

Monocultura no Brasil

O Brasil é um dos maiores produtores mundiais em monoculturas, com destaque para culturas como soja, milho, cana-de-açúcar, café e eucalipto. O país também se sobressai na monocultura de criação animal, produzindo frango, suínos e bovinos intensivamente.

Essas atividades têm um papel importante na economia nacional, representando uma parcela significativa das exportações do país. Em 2023, o agronegócio foi responsável por 49% do mercado de exportação brasileiro, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

Essa forma de produzir no Brasil tem raízes históricas que remontam ao período colonial, quando a economia era sustentada por plantations, um sistema agrícola baseado em monoculturas, latifúndios, mão de obra escrava e exportação.

Essa prática começou com a produção de cana-de-açúcar, principalmente no Nordeste a partir do século XVI. Mais tarde, no século XIX, o café assumiu protagonismo, sobretudo na região Sudeste. Assim, o sistema de monocultura moldou a estrutura fundiária e econômica do Brasil, definindo a paisagem agrícola do país. 

Nas décadas de 1960 e 1970, a chamada Revolução Verde intensificou ainda mais o avanço da monocultura no Brasil. Esse movimento trouxe novos produtos que aumentaram a produtividade, como sementes híbridas e geneticamente modificadas, fertilizantes químicos, agrotóxicos e maquinário agrícola.

Principais monoculturas do país

O Brasil é um dos maiores exportadores de produtos de monoculturas agrícolas no mundo. Segundo um relatório do banco BTG Pactual, o país lidera as exportações globais de pelo menos sete alimentos, sendo chamado de “celeiro do mundo”.

A soja é a principal monocultura brasileira – o país é o maior exportador mundial do grão. Segundo o levantamento, o Brasil responde por 56% das exportações globais de soja.

O país também é líder nas exportações mundiais de milho (31%), café (27%), açúcar (44%), suco de laranja (76%), carne bovina (24%) e carne de frango (33%). Além disso, o Brasil é o segundo maior exportador de etanol e algodão.

Vantagens da monocultura

Apesar dos desafios desse modelo agrícola, a monocultura apresenta vantagens econômicas que explicam sua ampla adoção no Brasil. Uma das principais é a alta produtividade, impulsionada pelo uso de maquinário, manejo e insumos, que resulta em grandes volumes de produção. 

Isso atende à demanda global por alimentos, biocombustíveis e matérias-primas e explica o desempenho econômico do agronegócio, que exportou US$ 166,19 bilhões entre outubro de 2023 e setembro de 2024, segundo o Mapa.

Outra vantagem é a padronização de processos, que reduz custos operacionais com mão de obra, logística e insumos. A monocultura também fomenta o desenvolvimento de tecnologias específicas em sementes geneticamente modificadas, sistemas de irrigação e maquinário avançado, investimentos que trazem inovação para o agronegócio.

Além disso, a produção em larga escala facilita a comercialização e exportação, o que consolida o Brasil como um protagonista no mercado internacional de commodities.

Consequências da monocultura

A monocultura também traz diversas consequências negativas para o meio ambiente e a sustentabilidade. Seus principais impactos são o desmatamento e a degradação do solo

O cultivo contínuo de um único tipo de planta em grandes áreas leva à exaustão do solo, causando a perda de nutrientes essenciais, e  a diminuição da fertilidade. O uso excessivo de agrotóxicos e fertilizantes agrava o problema, contaminando o solo e a água, além de aumentar a acidez da terra, diminuindo sua qualidade.

Outro impacto da monocultura é a perda de biodiversidade. Ao desmatar ecossistemas nativos para abrir latifúndios, essa prática destrói habitats e reduz a biodiversidade local, prejudicando a fauna e a flora nativos. O modelo também retira água das fontes locais para irrigação, o que pode esgotar os recursos hídricos que alimentam ecossistemas e dos quais comunidades dependem para viver.

A monocultura ainda aumenta a vulnerabilidade das plantações a pragas e doenças, porque a falta de diversidade genética dentro dos cultivos os torna mais suscetíveis ao ataque de pestes. Isso exige o uso intensivo de pesticidas, criando um ciclo vicioso de resistência nas pragas e levando à utilização de produtos cada vez mais fortes, que contaminam os solos e lençóis freáticos. 

Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) de 2021, o Brasil é o país que mais usa agrotóxicos no mundo. Além do meio ambiente, esses venenos prejudicam também a saúde humana. Segundo o Atlas dos Agrotóxicos de 2024, no mundo, cerca de 385 milhões de pessoas sofrem intoxicação por agrotóxicos anualmente.

Os impactos sociais da monocultura também são extensos. A dependência de uma única cultura torna a economia vulnerável a flutuações nos preços internacionais, ou seja, esses alimentos não são acessíveis nem produzidos para as pessoas locais. Além disso, esse modelo agrícola tende a intensificar a concentração de terras nas mãos de grandes produtores e empresas, agravando as desigualdades socioeconômicas.

A monocultura também intensifica as mudanças climáticas. Isso porque o desmatamento para abrir mais áreas de cultivo libera grandes quantidades de carbono na atmosfera, contribuindo para o aquecimento global, e as máquinas utilizadas na colheita geralmente são movidas à gasolina ou diesel. O monocultivo ainda reduz a capacidade do solo de armazenar carbono ao diminuir a deposição de matéria orgânica, tornando-o mais vulnerável à erosão.

As monoculturas de animais também aumentam o desmatamento para abertura de pastagens, o que aumenta as emissões de gases de efeito estufa. A prática ainda favorece a propagação de doenças como mastite e febre suína e gera grandes quantidades de resíduos, além de promover a compactação do solo por conta da pisada constante dos animais pesados.

Policultura: uma alternativa sustentável

A policultura surge como uma alternativa sustentável à monocultura. Esse modo de produzir alimentos é caracterizado pelo cultivo de várias espécies alternadas em uma mesma área, o que contribui para a saúde do solo e a preservação ambiental. 

Nesse modo de produção, a melhora da fertilidade do solo acontece porque diferentes cultivos atendem a necessidades nutricionais variadas, fazendo com que plantá-las juntas reduza a dependência de fertilizantes químicos. Além disso, ela favorece o controle natural de pragas e aumenta a resiliência frente às mudanças climáticas ao minimizar os impactos de secas ou chuvas intensas.Com uma gestão eficiente de recursos como água e solo, a policultura é uma abordagem mais equilibrada e ecológica para a produção de alimentos e uma opção que favorece a segurança alimentar e a saúde do planeta a longo prazo.

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