8 filmes sobre fome que projetam a desigualdade na tela

Confira nossa seleção de filmes e documentários que abordam a realidade da fome, desde suas causas até seus impactos na vida de milhões

A fome está presente nas estatísticas, nos discursos políticos, nas ruas das grandes cidades e nas paisagens do interior. Mas também está nas telinhas e telonas. Com o poder de emocionar, denunciar e provocar, o cinema tem sido uma ferramenta estratégica para expor a desigualdade alimentar que persiste no Brasil e no mundo.

Nesta lista, reunimos 8 filmes que abordam a fome sob diferentes ângulos: da ficção ao documentário, da escassez cotidiana à crise global. Mais do que comover o público, essas histórias convidam à reflexão sobre as causas estruturais da fome e o impacto devastador que ela tem na vida de milhões de pessoas.

A fome no cinema: ficções que expõem a realidade

Embora a fome seja uma realidade muitas vezes denunciada por documentários, ela também encontra espaço em narrativas ficcionais que revelam, por meio do drama, a dureza de viver na escassez. 

Ao projetar nas telonas enredos baseados em histórias reais, esses filmes mostram como a ausência de comida afeta não só o corpo, mas também a dignidade, os laços sociais e as perspectivas de futuro.

São obras que usam a linguagem do cinema para traduzir experiências marcadas pela miséria, pelo abandono e pela resistência. Da seca no sertão nordestino às crises alimentares na África contemporânea, essas ficções ajudam a entender que a fome não é um acidente isolado, mas sim um reflexo de desigualdades estruturais.

A seguir, conheça nossa seleção de filmes que têm a fome como personagem principal.

Vidas Secas (1963)

Baseado no livro homônimo de Graciliano Ramos, “Vidas Secas” acompanha uma família de retirantes que vaga pelo sertão nordestino em busca de sobrevivência, lutando contra a seca, a miséria e a ausência de perspectivas.

Dirigido por Nelson Pereira dos Santos e com fotografia em preto e branco, o filme é um dos marcos do movimento Cinema Novo brasileiro e recebeu inúmeros prêmios. A fome em “Vidas Secas” é física, simbólica e constante. Ela aparece nos corpos magros, nos silêncios prolongados, na secura da paisagem e na rotina dura da família.

O Menino que Descobriu o Vento (2019)

Dirigido por Chiwetel Ejiofor, “O Menino que Descobriu o Vento” é baseado na história real de William Kamkwamba, um jovem do Malaui que, em meio a uma grave crise de fome, constrói uma turbina eólica para irrigar a lavoura de sua comunidade. 

Ambientada no início dos anos 2000, a produção britânica mostra como a seca, a pobreza e a negligência política contribuíram para o colapso da produção agrícola e deixaram milhares de pessoas sem acesso a alimentos. Ao mesmo tempo, o filme propõe um olhar de esperança, ao destacar a força da educação, da criatividade e da solidariedade como caminhos possíveis para enfrentar a fome.

Morte e Vida Severina (1977)

Baseado no poema de João Cabral de Melo Neto, o filme “Morte e Vida Severina” adapta para a tela a jornada de Severino, um retirante nordestino que deixa o sertão em busca de uma vida menos miserável no litoral. 

O filme, dirigido por Zelito Viana, denuncia a miséria e a fome como condição coletiva, marcada não só pela escassez de comida, mas pela ausência de perspectivas. Ao longo do percurso, o protagonista encontra outros “severinos”, igualmente marcados pela luta diária para sobreviver.

Fome (2015)

Com ares de documentário, “Fome” é uma ficção que apresenta a trajetória de um ex-renomado professor universitário em situação de rua por opção própria. Perambulando pelas ruas da cidade de São Paulo, o velho homem busca comida, abrigo e dignidade.

Dirigido por Cristiano Burlan, o filme retrata a fome não apenas como ausência de alimento, mas como exclusão total — econômica, social e simbólica. Com uma estética minimalista e depoimentos reais de moradores de rua, a obra evidencia a miséria urbana e a desesperança de quem vive à margem da sociedade. 

Documentários que denunciam a fome real

Enquanto a ficção dramatiza, os documentários escancaram a realidade com dados, imagens e depoimentos reais. Essas produções exploram a fome em diferentes contextos — do sertão brasileiro aos sistemas globais de produção de alimentos — e revelam como ela é consequência de escolhas políticas, econômicas e sociais.

Mais do que informar, esses filmes denunciam a situação. Eles provocam desconforto e reflexão a quem assiste ao expor o abandono, o desperdício, a desigualdade e a naturalização da miséria.

Ao dar voz a quem convive diariamente com a escassez, os documentários ajudam a tirar a fome da invisibilidade e evidenciam que ela continua sendo um dos maiores desafios do nosso tempo.

Separamos quatro documentários que colocaram a fome no centro do debate público.

Garapa (2009)

Dirigido por José Padilha, o documentário “Garapa” acompanha o cotidiano de três famílias vivendo em situação de insegurança alimentar grave no interior do Ceará. Na luta diária contra a fome, as mulheres à frente dessas famílias dão aos seus filhos a garapa, uma mistura de água e açúcar para enganar o estômago vazio.

Com uma estética simples e filmado em preto e branco, o filme retrata a fome e a miséria de forma crua, impactante e dolorosa. “Garapa” escancara a naturalização da fome no Brasil e convida o espectador a enfrentar um problema estrutural ainda muitas vezes ignorado pela mídia e pelo poder público.

Histórias da Fome no Brasil (2017)

O documentário “Histórias da Fome no Brasil” traça um panorama histórico e político da fome desde a época do Brasil colonial até a saída do país do Mapa da Fome em 2014, destacando o papel das políticas públicas nessa trajetória.

Dirigida por Camilo Tavares, a obra combina depoimentos de especialistas, imagens de arquivo e relatos de quem viveu — ou ainda vive — a realidade da insegurança alimentar. Ao revelar as raízes estruturais da fome, o filme reforça a ideia de que ela não é fruto do acaso, mas de escolhas políticas e econômicas.

10 bilhões – O que tem para comer? (2015)

“10 bilhões – O que tem para comer?” é um documentário alemão que investiga os desafios da alimentação em um planeta que caminha para a marca de 10 bilhões de habitantes até 2050. Dirigida por Valentin Thurn, a obra levanta uma pergunta central: como alimentar tanta gente de forma justa, sustentável e sem agravar ainda mais os impactos ambientais?

Ao longo do filme, Thurn percorre diferentes países e apresenta modelos alternativos de produção e consumo. O documentário aborda a fome não como simples falta de alimentos, mas como parte de um sistema desigual, que privilegia o lucro e o desperdício ao invés da nutrição e do acesso universal à comida.

Da ficção à realidade: o papel do cinema no debate sobre a fome

O cinema, seja por meio da ficção ou do documentário, tem a capacidade de dar forma e visibilidade a temas muitas vezes silenciados pela sociedade. Ao retratar a fome com sensibilidade, profundidade e senso crítico, essas produções ajudam a romper o distanciamento e provocam o público a enxergar a desigualdade alimentar não como um problema distante, mas como um desafio cotidiano e urgente.

No Brasil, onde 54 milhões de pessoas ainda enfrentam a insegurança alimentar, o cinema cumpre um papel essencial: documenta a realidade de quem vive à margem, questiona as estruturas de poder que sustentam a fome e inspira ações de mobilização social. Ao ocupar as telas, a fome deixa de ser invisível — ela ganha rostos, histórias e contexto. Assim, o cinema contribui para que esse debate não saia da pauta pública, ajudando a pressionar por políticas públicas, sensibilizar a sociedade e fortalecer movimentos que lutam pelo direito humano à alimentação.

Ir para o conteúdo