A doação de alimentos não é apenas uma forma de aliviar a fome de quem não tem acesso a uma alimentação adequada; ela também promove a solidariedade e o senso de comunidade, além de reduzir o desperdício.
Segundo a Pesquisa Doação Brasil, o combate à fome é a terceira causa que mais recebeu doações em 2022, representando 29% das doações institucionais e ficando atrás somente das causas infantil e da saúde.
Em um cenário onde milhões ainda enfrentam a fome diariamente, uma doação tem o poder de alimentar e devolver a dignidade. Saiba como funciona a doação de alimentos, sua importância no combate à insegurança alimentar e veja dicas de como doar de forma eficaz e segura.
Insegurança alimentar e a importância da doação de alimentos
De acordo com dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 64,2 milhões de brasileiros convivem com a insegurança alimentar, condição na qual pessoas ou famílias não têm acesso regular a alimentos suficientes e nutritivos para levar uma vida saudável.
Enquanto falta comida de um lado, sobra do outro. O país desperdiça 55,4 milhões de toneladas de alimentos por ano ao longo de toda a cadeia de produção, segundo o Relatório Diagnóstico sobre a Fome e o Desperdício de Alimentos no Brasil (2022), do Integration Consulting em parceria com o Pacto Contra a Fome.
Além de uma incoerência, esses dados também revelam um problema ambiental: os alimentos desperdiçados vão do lixo para os aterros, onde geram de 8% a 10% das emissões globais de gases de efeito estufa, afirma o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Nesse contexto, a doação de alimentos surge como uma solução imediata para amenizar esses efeitos. Com a doação, alimentos que seriam desperdiçados têm a chance de chegar a quem mais precisa.
A doação de alimentos também é crucial na construção de uma sociedade mais sustentável e consciente; ao evitar o desperdício de alimentos, a doação contribui para a redução da pegada de carbono ao diminuir a quantidade de resíduos encaminhados aos aterros sanitários e, consequentemente, as emissões de gases de efeito estufa.
Além disso, essa prática fortalece os laços comunitários e promove uma cultura de solidariedade em que o bem-estar coletivo é priorizado, gerando um impacto social positivo que vai além da simples ação de doar.
Como funciona a doação de alimentos?
O processo de doação de alimentos envolve as etapas de coleta, triagem, armazenamento e distribuição, e pode ser feita de forma direta, ou seja, entregue diretamente do doador para o beneficiário, ou indireta, quando a doação tem ajuda de um intermediário, como órgãos públicos ou instituições sociais.
As doações podem ser realizadas por indivíduos e pequenos grupos de voluntários ou em grande escala, por empresas, organizações não governamentais (ONGs), instituições religiosas, projetos sociais e iniciativas governamentais.
Os alimentos doados vêm de diferentes fontes, como supermercados, feiras, restaurantes, produtores rurais ou de pessoas que desejam contribuir, e beneficiam indivíduos e famílias em situação de vulnerabilidade social, além de instituições como creches, abrigos e asilos.
Em 2020, o governo federal aprovou a Lei nº 14.016, que regulamenta a doação de alimentos no país. A chamada Lei de Doação de Alimentos autoriza restaurantes a doar sobras de comida não comercializadas, desde que estejam dentro das condições de qualidade ideais.
É importante saber que sobras de alimentos não são o mesmo que restos. As sobras são excedentes de alimentos que não foram distribuídos e estão bem conservados, ou seja, em condições de doação. Enquanto isso, os restos são alimentos já servidos ao consumidor e sem segurança sanitária, e que, portanto, não podem ser doados.A doação de alimentos é só uma das maneiras de contribuir para a segurança alimentar. Você também pode apoiar essa causa por meio de voluntariados em bancos de alimentos e participação em campanhas de conscientização sobre o tema, por exemplo. Essas iniciativas ampliam o alcance da mensagem e mobilizam mais pessoas a se engajarem no movimento contra a fome.
Dicas para doar alimentos
Doar alimentos é um instrumento poderoso para ajudar quem mais precisa, mas é importante que a doação seja feita de forma consciente e eficiente, garantindo que os alimentos são saudáveis e seguros. Caso contrário, a comida doada pode causar intoxicações alimentares e aumentar o risco de desenvolvimento de doenças relacionadas à alimentação inadequada.
Na hora de doar alimentos, também é recomendado saber a situação do beneficiário, especialmente para doações de cestas básicas. Se a pessoa não tiver condições de armazenar, cozinhar e consumir aqueles alimentos, é possível que eles sejam desperdiçados por quem mais necessita.
Confira mais dicas para doar alimentos de maneira responsável:
- Verifique a validade dos alimentos e evite doar aqueles que estão muito próximos do vencimento;
- Escolha alimentos não perecíveis, que têm uma longa vida útil e são básicos na dieta de muitas pessoas;
- Priorize alimentos nutritivos e que contribuam para uma dieta equilibrada;
- Evite embalagens danificadas que possam comprometer a segurança alimentar;
- Doe em quantidades suficientes para atender uma família por pelo menos uma refeição, se possível;
- Considere as necessidades específicas de determinados tipos de alimentos em algumas situações, como catástrofes naturais ou crises;
- Apoie organizações confiáveis e com experiência na distribuição de alimentos.
Quais alimentos podem ser doados?
Todos os alimentos bem conservados e seguros para o consumo humano podem ser doados. Eles são classificados como in natura, minimamente processados, processados, ultraprocessados e refeições prontas.
Veja alguns exemplos de alimentos para doar:
- In natura: frutas, legumes, verduras, carnes, peixes e ovos;
- Minimamente processados: grãos (arroz, feijões, lentilha), frutas secas, leite e manteiga;
- Processados: conservas, compotas, queijos, iogurtes, carnes e peixes salgados;
- Ultraprocessados: embutidos, chocolates, queijos cremosos, pães, bolos, biscoitos, enlatados e produtos congelados;
- Refeições prontas: para consumo imediato, como marmitas e lanches.
Em relação à qualidade nutricional, o Guia para Doação de Alimentos com Segurança Sanitária, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), indica priorizar a doação de alimentos saudáveis, como alimentos in natura, minimamente processados, processados e refeições prontas.
Como receber doações de alimentos?
Existem alguns caminhos para pessoas, famílias ou grupos em situação de vulnerabilidade social receberem doações de alimentos.
O primeiro passo é a visita a um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), que organiza a entrada em programas de proteção social, para verificar a elegibilidade a programas de assistência e acesso à renda, como o Bolsa Família. Também é possível procurar um banco de alimentos, estrutura que coleta doações de alimentos e as distribuem para quem precisa. Os bancos podem ser públicos, pertencentes à rede Mesa Brasil Sesc, inseridos em CEASAs ou de instituições sociais. Outra opção é buscar ajuda em ONGs, instituições de caridade, igrejas e centros comunitários envolvidos no combate à fome.