Em meio à crise climática, a agroecologia surge como uma alternativa viável para garantir a segurança alimentar e promover sistemas alimentares mais sustentáveis.
Mais do que uma técnica agrícola, é um movimento que busca integrar saberes tradicionais, ciência e inovação para transformar a forma como produzimos e consumimos alimentos.
Entenda o que é o conceito de agroecologia, como funcionam suas práticas e por que sua importância vai além do campo.
O que é agroecologia?
A agroecologia é um modelo agrícola que integra princípios ecológicos, visando um agroecossistema sustentável. O termo também pode ser entendido como uma disciplina científica e como um movimento social e político.
O conceito surgiu em 1934, mas ganhou força a partir dos anos 1960 como alternativa aos impactos negativos causados pela Revolução Verde, que prioriza a maximização da produtividade por meio do uso intensivo de insumos agroquímicos e técnicas intensivas.
Em contrapartida, as práticas agroecológicas respeitam os ciclos da natureza, minimizam o uso de insumos sintéticos e conservam os recursos naturais, fortalecendo o ecossistema. Além de agregar conhecimentos científicos, a agroecologia resgata as práticas agrícolas tradicionais vindas da agricultura familiar.
Objetivos da agroecologia
O principal objetivo da agroecologia é promover práticas ecologicamente equilibradas, socialmente justas e economicamente viáveis. Por isso, essa abordagem também incorpora aspectos sociais, políticos, culturais, energéticos, ambientais e éticos.
Entre os objetivos específicos da agroecologia, estão:
- Conservação dos recursos naturais, preservando a biodiversidade, a saúde do solo e a qualidade da água;
- Redução da dependência de insumos externos, como fertilizantes químicos, agrotóxicos e sementes geneticamente modificadas;
- Fortalecimento das comunidades locais por meio da valorização do conhecimento tradicional e local;
- Garantia de acesso a alimentos saudáveis e culturalmente apropriados, produzidos de forma justa e sustentável;
- Resiliência dos sistemas agrícolas diante das mudanças climáticas;
- Promoção da justiça social, visando melhorar as condições de vida dos trabalhadores rurais.
Princípios da agroecologia
A agroecologia é guiada por uma série de princípios que norteiam as práticas agroecológicas e buscam harmonizar a produção agrícola com a preservação dos recursos naturais e o bem-estar social.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) desenvolveu dez elementos da agroecologia durante o Segundo Simpósio Internacional da FAO sobre Agroecologia, em 2018. Essas diretrizes incluem:
- Diversidade: aumentar a variedade de culturas e práticas agrícolas é essencial para garantir a segurança alimentar, melhorar a nutrição e proteger os recursos naturais;
- Cocriação e compartilhamento de conhecimento: soluções agrícolas funcionam melhor quando são desenvolvidas com os agricultores, usando tanto o conhecimento local quanto o científico;
- Sinergias: fortalecer as interações entre diferentes elementos do sistema alimentar (como solo, água, plantas, animais e pessoas) contribui com a melhoria da produção e a capacidade dos ecossistemas de fornecer mais benefícios;
- Eficiência: práticas agroecológicas buscam produzir mais com menos, reduzindo a necessidade de insumos externos, como fertilizantes e pesticidas;
- Reciclagem: reaproveitar recursos e resíduos na produção agrícola diminui os custos e os impactos ambientais;
- Equilíbrio: aumentar a capacidade de adaptação das pessoas, comunidades e ecossistemas é crucial para tornar a agricultura mais sustentável;
- Valores humanos e sociais: melhorar as condições de vida no campo e promover a equidade social são essenciais para a sustentabilidade;
- Cultura e tradições alimentares: respeitar e apoiar dietas diversificadas e apropriadas às culturas locais ajuda a garantir a segurança alimentar e a saúde dos ecossistemas;
- Governança responsável: para alcançar a sustentabilidade, é importante ter políticas e regras justas para o uso da terra e dos recursos naturais, desde o nível local até o global;
- Economia circular e solidária: promover práticas que reutilizam recursos e conectam produtores e consumidores ajuda a viver de forma sustentável, além de apoiar um desenvolvimento sustentável para todos.
Como funciona a agroecologia
A agroecologia funciona como um sistema que combina práticas agrícolas sustentáveis com princípios ecológicos, visando criar um equilíbrio entre a produção de alimentos e a preservação do meio ambiente.
Para isso, ela promove a diversidade de culturas e espécies, utilizando rotações de culturas, consórcios e culturas intercaladas, o que ajuda a aumentar a resiliência das plantações, melhorar a saúde do solo e reduzir pragas e doenças.
Ao empregar técnicas que maximizam o uso de recursos naturais, como água e nutrientes do solo, a agroecologia busca reduzir a dependência de insumos externos. Exemplos disso são práticas como adubação verde e compostagem, que ajudam a reciclar nutrientes.
Outra prática da agroecologia é a conservação do solo e da água, realizada por meio de métodos como cobertura do solo, plantio direto e agrofloresta, que protegem a qualidade do solo e conservam a água, prevenindo a erosão e a degradação.
A agroecologia ainda incentiva a interação entre diferentes componentes do sistema agrícola, como a criação de animais em conjunto com o cultivo de plantas, formando um ciclo de reutilização de nutrientes e recursos.
Além disso, essa abordagem valoriza o conhecimento local e promove a participação dos agricultores na tomada de decisões. A prática da agroecologia também inclui a educação e a conscientização dos produtores sobre práticas agroecológicas, garantindo que todos entendam a importância da sustentabilidade.
Importância da agroecologia
Para a FAO, a agroecologia contribui diretamente para a maioria dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, desempenhando um papel essencial na construção de um sistema alimentar mais sustentável e resiliente.
Um deles é o ODS 2, que objetiva acabar com a fome. A agroecologia promove a segurança alimentar e nutricional porque sua abordagem aumenta a disponibilidade de alimentos saudáveis e nutritivos, além de garantir que as comunidades tenham acesso a uma variedade de produtos que atendem às suas necessidades alimentares.
O modelo também ajuda a proteger e restaurar o meio ambiente, porque reduz os impactos negativos da agricultura convencional, como a degradação do solo, a poluição e a perda de habitats naturais. Em sintonia com o ODS 13, que trata sobre as mudanças climáticas, a agroecologia ainda aumenta a resiliência dos sistemas alimentares frente a eventos climáticos extremos.
Outro aspecto importante da agroecologia é a promoção da justiça social, o fortalecimento das comunidades rurais e da economia local. Isso melhora não só as condições de vida dos produtores, mas também promove a equidade no acesso a recursos e oportunidades, além de contribuir para economias mais justas e sustentáveis.
Desafios da agroecologia
No Brasil e no mundo, a agroecologia enfrenta diversos desafios que dificultam sua implementação e expansão em um cenário agrícola dominado pela agricultura convencional.
Um dos principais obstáculos é a falta de políticas públicas que apoiem a agroecologia. Embora existam algumas iniciativas de apoio à agricultura familiar, elas ainda são insuficientes para fomentar a agricultura sustentável.
Outro desafio é a resistência cultural à mudança, já que muitos agricultores estão acostumados a práticas convencionais. Esse aspecto está relacionado a outro fator: a falta de capacitação e formação técnica em agroecologia, o que impede a adoção dessa prática.
Mais uma dificuldade é o acesso limitado a créditos ou subsídios que incentivem a transição para métodos mais sustentáveis. A falta de infraestrutura adequada e a escassez de insumos orgânicos acessíveis também são barreiras significativas.
Embora a agroecologia seja vital na construção de um sistema alimentar mais sustentável e justo no Brasil, os desafios para sua implementação são multifacetados. Por isso, superar essas barreiras requer um esforço conjunto entre agricultores, governo, organizações não governamentais e a sociedade civil.