Entenda o que é a monotonia alimentar, quais suas causas e consequências, e como evitar um cardápio limitado
Para muitos, a realidade à mesa é uma repetição de alimentos que se torna rotina. A chamada monotonia alimentar é mais comum do que parece e vai além de uma questão de preferência ou praticidade.
Sinônimo de uma alimentação pouco variada, a monotonia alimentar é aquela em que a diversidade de nutrientes e sabores dá lugar a um cardápio limitado.
Entenda, neste artigo, o que é a monotonia alimentar, suas causas e quais as consequências de manter uma alimentação pouco variada, e como enfrentar esse problema que afeta mais do que o paladar.
O que é monotonia alimentar?
A monotonia alimentar é caracterizada pela baixa diversidade de alimentos consumidos no dia a dia, com refeições compostas por um número limitado de ingredientes e, consequentemente, nutrientes. Na prática, a monotonia alimentar é o hábito de fazer sempre as mesmas refeições ou prepará-las sempre com os mesmos ingredientes.
Os motivos para essa monotonia podem ser muitos, como a falta de acesso a outros alimentos, a praticidade de se alimentar assim, influência cultural ou da indústria alimentícia, dietas restritivas, gostos pessoais, entre outros. Mas enquanto uma dieta variada alimenta o organismo de forma mais completa, essa repetição alimentar pode levar a um desequilíbrio nutricional e a um aumento do risco de doenças crônicas, como diabetes e obesidade.
Isso porque a falta de variedade na escolha dos alimentos restringe a ingestão de várias vitaminas, minerais e outros nutrientes essenciais à saúde. Além disso, esse comportamento alimentar reduz a satisfação e o prazer nas refeições.
A monotonia alimentar também está relacionada a um fenômeno mais amplo, conhecido como monotonia agroalimentar. Este termo descreve a perda de diversidade na produção agrícola e nos produtos alimentícios disponíveis nos mercados.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), apenas 15 plantas cultivadas no mundo contribuem para a alimentação de 90% da humanidade, sendo que metade dessas pessoas dependem apenas de arroz, milho e trigo.
Ainda segundo a FAO, 66% da produção agrícola global está concentrada em nove produtos. Esse processo de padronização leva à predominância de alimentos que têm maior rentabilidade e resistência, mas reduzem a variedade alimentar oferecida aos consumidores.
Causas da monotonia alimentar
A monotonia alimentar pode ser causada por diversos fatores, desde uma rotina corrida até a falta de acesso à comida. Juntas ou separadas, essas causas influenciam nas escolhas alimentares e, consequentemente, contribuem para a mesmice no prato e a piora na saúde.
Uma das principais razões para a monotonia alimentar é a mesma que leva à fome: a falta de dinheiro. E nem é preciso estar entre os 64 milhões brasileiros em situação de insegurança alimentar para conhecer essa realidade; a variedade pode ser limitada pela renda mesmo em famílias onde todas as refeições são feitas, mas, com menos dinheiro, dá-se preferência para os alimentos mais acessíveis e duráveis, geralmente industrializados.
A falta de acesso aos alimentos também ocorre em regiões com pouca infraestrutura. Nos chamados desertos alimentares, o acesso a produtos frescos, como frutas, legumes e proteínas diferentes é dificultado, contribuindo para uma alimentação restrita.
Mais um motivo comum é a falta de tempo. Com uma rotina cada vez mais acelerada, a praticidade se torna prioridade. Muitas pessoas optam por refeições mais rápidas e fáceis de preparar, mesmo que isso signifique repetir os mesmos ingredientes diariamente.
A correria do dia a dia também se relaciona a outro fator que influencia nos hábitos alimentares: a padronização da produção de alimentos, que prioriza produtos com menor custo e mais duráveis. O marketing voltado para essa praticidade faz com que muitos consumidores prefiram alimentos como macarrão instantâneo, pães e biscoitos.
Existe também a influência da cultura alimentar de cada local e a da tradição familiar, que podem levar as pessoas a consumirem os mesmos pratos ao longo dos anos, além das preferências pessoais e o pouco conhecimento sobre como utilizar outros ingredientes.
Consequências da monotonia alimentar
Um dos principais impactos da monotonia alimentar são as deficiências nutricionais. A falta de frutas, vegetais, grãos e sementes variadas causa deficiências nutricionais que afetam a imunidade, o funcionamento celular e a saúde como um todo. Nutrientes como ferro, vitamina A, cálcio e vitamina C estão presentes nesses alimentos e entre as deficiências mais comuns.
Quando, além da falta de variedade, produtos com baixo valor nutritivo e ricos em gorduras saturadas, açúcares e sódio, estão presentes de forma rotineira na alimentação, ainda há o maior risco de desenvolver doenças crônicas como diabetes, hipertensão e obesidade.
Esses efeitos se estendem ao bem-estar psicológico; a falta de nutrientes também prejudica a produção de hormônios que regulam nossa saúde emocional. Além disso, comer sempre os mesmos ingredientes pode levar à fadiga alimentar, que diminui o prazer de comer, e pode gerar compulsão alimentar por alimentos fora do cardápio, causando oscilações de peso, alterações no metabolismo e outros problemas físicos e emocionais.
Para além dos impactos na saúde física, a monotonia alimentar também afeta o meio ambiente. O cultivo intensivo de poucas espécies vegetais em monoculturas provoca perda da biodiversidade e degradação ambiental, além de contribuir com a crise climática.
Como enfrentar a monotonia alimentar
Acabar com a monotonia alimentar requer uma mudança de hábitos que não se limita apenas à troca de alguns itens do cardápio. É preciso adotar uma alimentação saudável e equilibrada, que pode ser muito mais prazerosa.
Um prato colorido é a chave para a boa nutrição! Para aumentar a diversidade da sua alimentação, focar em alimentos in natura de cores diferentes é uma boa pedida, uma vez que cada cor representa um conjunto único de nutrientes. Portanto, quanto mais cores houver no prato, melhor!
Outras dicas práticas para fugir da monotonia alimentar incluem explorar novas receitas, planejar cardápios semanais, e priorizar alimentos in natura e da estação. Esses hábitos facilitam a manutenção de uma alimentação variada e de qualidade no dia a dia, e ainda ajudam a reduzir o desperdício de alimentos.
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Além de ações individuais, o combate à monotonia alimentar exige uma mudança profunda nos sistemas alimentares. Para Ricardo Abramovay, professor titular da Cátedra Josué de Castro da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), a agricultura intensiva atendeu às demandas de produzir mais alimentos da época em que foi desenvolvida, mas agora precisa ser transformada.Atualmente, a monocultura ameaça a sustentabilidade do planeta, colocando a segurança alimentar em risco a longo prazo. Por isso, é urgente repensar os modelos de produção e consumo alimentar vigentes, buscando alternativas que preservem os recursos naturais e promovam uma alimentação mais equilibrada e sustentável, como a agroecologia.