A fome e a pobreza são problemas históricos que, mesmo em um mundo com abundância de recursos, continuam impactando milhões de vidas. Diante desse cenário, lideranças mundiais se uniram para uma iniciativa sem precedentes: a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
Lançada durante o G20 no Brasil, essa força-tarefa representa um esforço coletivo para desenvolver políticas públicas eficazes, mobilizar recursos e promover soluções inovadoras para erradicar a fome e construir um mundo mais justo e sustentável.
O que é a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza?
A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza é uma coalizão internacional que visa erradicar a fome do mundo até 2030. A iniciativa foi lançada oficialmente na abertura da Cúpula dos Líderes G20, que aconteceu no dia 18 de novembro de 2024, no Rio de Janeiro.
O G20 é um fórum de cooperação econômica internacional que reúne representantes das 20 maiores economias do mundo, além da União Europeia e da União Africana. Juntos, eles representam cerca de 85% do Produto Interno Bruto (PIB) do mundo.
A ideia é formar uma aliança mundial para captar recursos e conhecimentos com o objetivo de executar políticas públicas e tecnologias sociais eficazes comprovadas na redução da fome e da pobreza da humanidade.
A Aliança foi proposta pelo Brasil, que ocupa a presidência do G20 até novembro de 2024. No discurso de lançamento do projeto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva justificou a criação da força-tarefa:
“O símbolo máximo na nossa tragédia coletiva é a fome e a pobreza. Convivemos com um contingente de 733 milhões de pessoas ainda subnutridas. É como se as populações de Brasil, México, Alemanha, Reino Unido, África do Sul e Canadá, somadas, estivessem passando fome. Em um mundo que produz quase 6 bilhões de toneladas de alimentos por ano, isso é inadmissível”.
A Aliança contou com 148 membros fundadores, incluindo 82 países, a União Africana, a União Europeia e dezenas de organizações internacionais, instituições financeiras internacionais e organizações filantrópicas e não-governamentais.A missão da Aliança é acelerar os esforços para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em especial as metas de erradicar a fome e a pobreza (ODS 1 e ODS 2, respectivamente). Ao mesmo tempo, a força-tarefa visa reduzir as desigualdades (ODS 10) e incentivar as parcerias globais para o desenvolvimento sustentável (ODS 17), viabilizando transformações sustentáveis, inclusivas e justas.
Objetivos da Aliança Global
O principal objetivo da Aliança Global é agilizar o empenho internacional para acabar com a fome e a pobreza até 2030, reduzir desigualdades e apoiar parcerias globais para o desenvolvimento sustentável.
Entre os compromissos da Aliança, está a meta de atingir 500 milhões de pessoas com programas de transferência de renda em países de baixa renda até o final da década. A coalizão também pretende expandir as refeições escolares de alta qualidade para mais 150 milhões de crianças em países com pobreza infantil e fome endêmicas.
Para implementar essas ações e programas em diferentes países, a Aliança objetiva arrecadar bilhões em crédito e doações por meio de bancos multilaterais de desenvolvimento.
Fome no mundo
A Aliança Global surge em um cenário preocupante de fome no mundo. De acordo com o relatório “O Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo” (SOFI), cerca de 733 milhões de pessoas passaram fome no mundo em 2023. Esse número representa aproximadamente 152 milhões de pessoas a mais enfrentando a fome em comparação com 2019, antes da pandemia de Covid-19.
A proposta da Aliança é baseada na experiência do Brasil com suas políticas de transferência de renda e redução da pobreza reconhecidas internacionalmente, como o programa Bolsa Família, o Programa de Aquisição de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).
Como vai funcionar a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza
Na prática, a Aliança irá funcionar como uma facilitadora que constrói parcerias e garante a mobilização de recursos financeiros e de conhecimento para políticas públicas de alto impacto adaptadas às realidades de cada país.
Para isso, a Aliança tem como base uma cesta de referência de políticas públicas testadas e comprovadas – a chamada Policy Basket, em inglês. São ações nas áreas de redução da pobreza, segurança alimentar, apoio à primeira infância, educação, emprego, saúde e assistência, e financiamento para agricultura familiar.
Os membros da força-tarefa irão apoiar a implementação dessas estratégias organizados em três pilares:
- Nacional: relacionado aos governos nacionais;
- Financeiro: composto por entidades de apoio financeiro;
- Conhecimento: que reúne instituições renomadas dispostas a compartilhar conhecimentos e oferecer assistência técnica de forma voluntária.
Agora, os países que aderiram à Aliança Global vão elaborar projetos de erradicação da insegurança alimentar grave e redução da pobreza em seus territórios inspirados nesse conjunto de políticas validadas.
A adesão à Aliança não é restrita aos membros do G20, todos os países interessados podem participar da força-tarefa. As nações que entrarem no grupo poderão adotar as propostas de políticas e programas da Aliança, recebendo apoio técnico, político e financeiro dos parceiros.
O setor privado também participa da iniciativa, por meio de organizações internacionais, instituições de conhecimento, fundos e bancos de desenvolvimento, e instituições filantrópicas – que serão chamados para apoiar a implementação de políticas públicas de seu país.
Apesar de ter sido fundada dentro do G20, a Aliança Global irá funcionar como uma plataforma independente. Com uma estrutura operacional enxuta, sua governança inclui a Cúpula Contra a Fome e a Pobreza, com encontros regulares, o Conselho de Campeões, com representantes dos países e organizações, e o Mecanismo de Suporte, um corpo técnico pequeno e multidisciplinar.
Apoio financeiro
Parte do pilar financeiro da Aliança Global, as instituições financeiras internacionais irão viabilizar os programas e ações contra a fome e a pobreza. A força-tarefa já conta com o apoio de várias entidades, como Banco Mundial e o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird).
Também integram a Aliança bancos de desenvolvimento regionais, incluindo o Banco Africano de Desenvolvimento (AfDB), o Banco Asiático de Desenvolvimento (ADB), o Banco Europeu de Investimentos (BEI) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Apoios de organizações internacionais e não governamentais
A Aliança Global ainda tem o suporte de cerca de 50 organizações internacionais e não governamentais (ONGs), a maioria compondo o pilar de Conhecimento do grupo.
Entre as organizações internacionais, estão órgãos como a Unicef, o Programa Mundial de Alimentos (WFP) e os organismos-chave da Organização das Nações Unidas (ONU), como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Já na lista de fundações filantrópicas e ONGs, estão presentes as entidades Fundação Bill & Melinda Gates, Fundação Rockefeller, BRAC, Food for Education, Children’s Investment Fund Foundation, entre outras.
Como uma iniciativa do Brasil, muitas organizações brasileiras aderiram à coalizão, incluindo o Pacto Contra a Fome, a Ação da Cidadania, a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Instituto Comida do Amanhã, o Instituto Fome Zero e a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal.
Em seu compromisso de adesão, o Pacto Contra a Fome se comprometeu em colaborar com outros membros da Aliança para desenvolver soluções inovadoras e compartilhar boas práticas de aprendizagem e disseminação de conhecimento para a luta contra a fome e a pobreza.
