Banco de alimentos: um ponto chave para acabar com a fome e o desperdício

Entenda como os bancos de alimentos funcionam e como eles impulsionam a segurança alimentar no país

Os bancos de alimentos representam uma solução estratégica para combater dois grandes problemas do Brasil: a fome e o desperdício de alimentos. Ao receber e distribuir alimentos que poderiam ser descartados, eles conectam o Brasil que desperdiça aos brasileiros e brasileiras que passam fome, criando uma rede de solidariedade que impacta milhões de vidas.

Em 2022, os bancos de alimentos cadastrados na rede federal doaram mais de 38 mil toneladas de alimentos para 9 mil entidades assistenciais, beneficiando quase 2 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar, segundo dados mais recentes do governo.

Entenda como esses equipamentos funcionam, quais são seus objetivos e por que eles são importantes para a manutenção da segurança alimentar no país.

Entenda o que é um banco de alimentos

Os bancos de alimentos são estruturas físicas ou logísticas que captam, recebem e distribuem alimentos de forma gratuita para indivíduos e famílias em situação de vulnerabilidade social.

Com o objetivo de combater o desperdício de alimentos ao longo da cadeia produtiva, eles são equipamentos de segurança alimentar e nutricional, assim como os restaurantes populares e as cozinhas comunitárias

Segundo um relatório do Ministério da Cidadania, existem 234 bancos de alimentos no Brasil, sendo a maior parte localizada na região Sudeste. Os bancos podem ser públicos ou mantidos por iniciativas privadas sem fins lucrativos. 

O Serviço Social do Comércio (Sesc) criou o primeiro banco de alimentos no país em 1994; o Mesa São Paulo, na unidade Sesc Carmo, situada na região central da capital paulista. A primeira iniciativa governamental ocorreu em 2000, quando houve a criação de um banco de alimentos público na cidade de Santo André, no estado de São Paulo.

Objetivos dos bancos de alimentos

Os bancos de alimentos visam promover a segurança alimentar e nutricional, combater a fome e a desnutrição, além de reduzir o desperdício de alimentos. Sendo assim, o Guia Operacional e de Gestão para Bancos de Alimentos, elenca três objetivos fundamentais desses estabelecimentos:

  • Combate às perdas e desperdícios de alimentos, por meio da reintrodução deles na cadeia de abastecimento;
  • Contribuir para o direito humano à alimentação adequada e saudável por meio da garantia da segurança alimentar e nutricional das pessoas beneficiárias;
  • Educação alimentar e nutricional com objetivo de qualificar a agenda de promoção da alimentação adequada e saudável.

Em suas orientações, o governo ainda ressalta que os bancos de alimentos devem fomentar práticas de sustentabilidade ambiental, fortalecer a economia circular e promover ações educativas e de capacitação para contribuir com o desenvolvimento da população atendida.

Como funciona o banco de alimentos?

Os bancos de alimentos não funcionam como depósitos de comida. Esses equipamentos de segurança alimentar atuam em todo o processo, do recebimento do alimento até a sua doação

As principais atividades dos bancos de alimentos incluem: coleta, transporte, recebimento, seleção, classificação, triagem, higienização, fracionamento, embalagem, distribuição e entrega de alimentos. 

Vindos do setor público ou privado, as doações podem ou não estar fora dos padrões de comercialização, desde que estejam seguros para o consumo e com suas propriedades nutricionais preservadas.

Para aumentar o aproveitamento dos alimentos em caso de produtos muito próximos da validade ou muito maduros, os bancos também podem processar os itens recebidos, isto é, utilizá-los para preparar molhos, geleias, polpas, massas, entre outros.

O governo federal apoia a implementação e modernização dos bancos por meio de editais de chamada pública ou emendas parlamentares. A gestão dos bancos de alimentos tem quatro modalidades principais: 

  • Bancos de alimentos públicos;
  • Bancos da rede Mesa Brasil Sesc;
  • Bancos inseridos em Ceasas;
  • Bancos geridos por Organizações da Sociedade Civil (OSCs).

As unidades do país são integradas pela Rede Brasileira de Bancos de Alimentos (RBBA). Regulamentada em 2020, a rede busca garantir o funcionamento mais seguro, eficiente e responsável dos bancos.

A RBBA tem entre suas atribuições o fomento à troca de experiências, pesquisas, qualificação e políticas públicas de segurança alimentar. Ao aderir à rede, os bancos têm acesso a recursos federais e apoio técnico.

Doações para os bancos de alimentos

Os bancos de alimentos recebem doações de diferentes fontes, como empresas privadas, produtores rurais, hortas urbanas, eventos e campanhas de arrecadação. Ao doar, as organizações reduzem a geração de resíduos e ainda ajudam a promover a segurança alimentar. 

As doações de alimentos também podem vir de instituições públicas ou de programas governamentais, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). 

Além de estarem em boas condições para o consumo, os alimentos doados devem, de preferência, ser in natura ou minimamente processados, visando contribuir com uma alimentação saudável e equilibrada para quem recebê-los.

Nos estabelecimentos, os alimentos são selecionados, classificados, processados se necessário, porcionados, embalados e, só então, distribuídos gratuitamente.

Distribuição pelos bancos de alimentos

Os produtos recebidos pelos bancos de alimentos são ofertados de maneira gratuita para a população em situação de vulnerabilidade social e insegurança alimentar. A distribuição dos gêneros alimentícios não é feita diretamente aos indivíduos; ela ocorre por meio de instituições previamente cadastradas pelos bancos.

Um dos princípios desse equipamento é priorizar o atendimento a entidades socioassistenciais que promovam a segurança alimentar e nutricional em suas comunidades. Alguns tipos de instituições beneficiárias dos bancos de alimentos são:

  • Instituições de assistência social, de proteção e de defesa civil;
  • Instituições de ensino;
  • Estabelecimentos de saúde;
  • Unidades de acolhimento institucional de crianças e adolescentes;
  • Penitenciárias, cadeias públicas e unidades de internação;
  • Unidades de alimentação e nutrição, equipamentos e tecnologias sociais de segurança alimentar e nutricional.

Bancos de alimentos no Brasil

Uma das referências no combate à fome e ao desperdício de alimentos, o Sesc Mesa Brasil é a maior rede privada de bancos de alimentos da América Latina. Segundo dados da organização, o programa tem quase 3,5 mil empresas parceiras e mais de 7 mil entidades assistenciais cadastradas, beneficiando mais de 2 milhões de pessoas por mês.

A iniciativa encerrou 2024 com a maior arrecadação de alimentos desde a sua fundação, há três décadas. De acordo com a empresa, a expectativa é que o balanço total do ano chegue a 55 milhões de quilos em doações.Além da distribuição de alimentos, o Mesa Brasil também atua de forma emergencial em calamidades em todo o país e realiza ações educativas nas áreas de nutrição e serviço social.Outra organização importante no Brasil é a ONG Banco de Alimentos, criada em 1998 por iniciativa da sociedade civil. Atuante na cidade de São Paulo, a entidade já distribuiu cerca de 20 mil toneladas de alimentos e beneficiou 38 mil pessoas diariamente, além de  promover ações de educação nutricional e conscientização sobre o desperdício de alimentos por meio de parceria com instituições educacionais, palestras e workshops.

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