Espalhados pelo Brasil, existem espaços onde alimentos saudáveis são preparados e distribuídos diariamente para quem mais precisa, promovendo não só refeições acessíveis, mas também educação alimentar, capacitação e fortalecimento comunitário.
Esse é o papel das cozinhas comunitárias: muito mais do que um local de alimentação, elas representam um apoio valioso para milhares de pessoas em situação de vulnerabilidade e insegurança alimentar no país.
Neste artigo, entenda como essas cozinhas funcionam, quais são suas diferenças em relação a outros programas alimentares e como elas ajudam a combater a fome e a promover a inclusão social.
O que é a cozinha comunitária?
As cozinhas comunitárias são equipamentos públicos de segurança alimentar e nutricional, assim como os restaurantes populares e os bancos de alimentos. Esses espaços prestam serviços de captação, produção, oferta, distribuição e comercialização de refeições e alimentos, sendo instrumentos primordiais para o combate à fome no país.
Enquanto política pública federal, as cozinhas comunitárias existem desde 2006 como parte do Programa Fome Zero, lançado na primeira gestão de Lula. Elas são implementadas pelo governo federal em parceria com estados e municípios, e financiadas com recursos públicos, sem visar lucros.
O objetivo da cozinha comunitária é produzir e oferecer refeições saudáveis e nutritivas de forma gratuita ou a baixo custo. O público-alvo prioritário são pessoas em situação de vulnerabilidade social e insegurança alimentar.
As cozinhas comunitárias também visam estimular a cidadania, por meio do convívio da comunidade, de atividades de inclusão social produtiva e do fortalecimento da identidade comunitária, além de promover ações de educação alimentar e nutricional.
Qual a diferença entre restaurante popular e cozinha comunitária?
Uma das diferenças entre o restaurante popular e a cozinha comunitária é a capacidade de produção desses equipamentos públicos. Enquanto as cozinhas comunitárias precisam fornecer, ao menos, cem pratos por dia, os restaurantes populares conseguem atender mais de mil pessoas por refeição.
Outro diferencial é que, apesar de ambos os espaços ofertarem refeições a preços acessíveis, as cozinhas comunitárias devem priorizar a gratuidade do serviço, uma vez que elas atendem muitas pessoas amparadas por políticas de assistência social.
Diferença entre cozinha comunitária e cozinha solidária
Ao passo que a cozinha comunitária é um projeto do governo e financiado com dinheiro público, a cozinha solidária é uma iniciativa da sociedade civil, organizada pela comunidade local e mantida com doações de parceiros.
As cozinhas solidárias têm gestão própria e são operadas de maneira voluntária pelos membros da comunidade. Elas produzem e oferecem refeições gratuitas para pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica e insegurança alimentar, incluindo a população em situação de rua.
No ano passado, o governo federal lançou o Programa Cozinha Solidária para apoiar financeiramente as cozinhas solidárias por meio do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS). Segundo o ministério, existem mais de 2 mil cozinhas solidárias em funcionamento no Brasil.
Como funciona uma cozinha comunitária?
As cozinhas comunitárias funcionam, no mínimo, cinco dias por semana, geralmente de segunda a sexta-feira. Elas são instaladas em locais estratégicos para atender as pessoas mais vulneráveis, como regiões periféricas, com concentração de população de baixa renda e perto de equipamentos de assistência social, como abrigos e outros serviços de acolhimento institucional
Uma cozinha comunitária tem capacidade de produzir, pelo menos, cem refeições por dia, disponibilizadas, preferencialmente, de forma gratuita ou comercializadas a preços acessíveis, que variam de R$0,50 a R$2,00.
Para garantir que as refeições (café da manhã, almoço ou jantar) sejam saudáveis e nutricionalmente equilibradas, é obrigatória a presença de um nutricionista na equipe das cozinhas comunitárias.
Além do mais, essas cozinhas também são um espaço de educação alimentar e nutricional, oferecendo cursos, oficinas e palestras para a comunidade, inclusive de capacitação profissional.
Muitas cozinhas ainda mantêm hortas comunitárias, com hortaliças e ervas frescas para serem utilizadas no preparo das refeições diárias, bem como vivência de plantio e colheita e doações de mudas.
Esses espaços também promovem ações sustentáveis como o aproveitamento integral dos alimentos, a redução do desperdício e a compostagem de resíduos orgânicos. Além disso, algumas cozinhas utilizam um biogestor para transformar os restos de comida em biogás e biofertilizante.
Para criar uma cozinha comunitária, os estados e municípios podem pedir apoio financeiro ao governo federal, responsável por financiar a implantação ou modernização desses equipamentos públicos por meio de editais de seleção pública ou indicação de emendas parlamentares.
Já a gestão das cozinhas comunitárias é feita pelos governos estaduais ou municipais, que podem realizar parcerias com entidades privadas sem fins lucrativos e outras organizações da sociedade civil.
Quem pode comer na cozinha comunitária?
O acesso aos serviços das cozinhas comunitárias é universal, mas a prioridade é das pessoas em vulnerabilidade socioeconômica e insegurança alimentar indicadas pelos serviços de assistência social, como o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS).
Alguns grupos vulneráveis priorizados no atendimento das cozinhas comunitárias são, por exemplo, trabalhadores de baixa renda, desempregados, idosos e pessoas em situação de rua.
Cozinhas comunitárias no combate à fome
As cozinhas comunitárias desempenham um papel essencial na promoção da segurança alimentar e no combate à fome no Brasil. Ao fornecer refeições saudáveis, gratuitas ou a preços simbólicos, elas contribuem para a garantia do direito básico à alimentação.
Parte da estrutura do Sistema Nacional de Segurança Alimentar (Sisan), a cozinha comunitária atua em articulação com outras políticas sociais que visam a erradicação da pobreza, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Bolsa Família.
Além de aliviar a fome no curto prazo, as cozinhas promovem ações de longo prazo, como a educação alimentar e nutricional, ajudando a comunidade a entender e valorizar uma alimentação saudável e equilibrada, assim como cursos de formação profissional.
Elas representam mais do que um local de alimentação; são pontos de encontro e apoio comunitário, onde as pessoas podem se sentir acolhidas e reforçar seus laços sociais. As cozinhas comunitárias ainda fortalecem práticas sustentáveis, beneficiando também o meio ambiente.