Cultivar alimentos frescos e saudáveis não precisa ser um privilégio distante – pode ser um esforço conjunto e acessível para todas as pessoas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o consumo de ao menos 400g de frutas e vegetais por dia, mas em muitos lugares o acesso a esses alimentos ainda é um desafio.
As hortas comunitárias surgem como uma alternativa para essa questão, transformando terrenos urbanos em oásis de sustentabilidade e colaboração. Mais do que um simples espaço de plantio, as hortas fortalecem os laços sociais e a segurança alimentar.
Neste artigo, saiba como as hortas funcionam, os seus benefícios e o impacto positivo que podem gerar na saúde, no meio ambiente e nas comunidades.
O que é uma horta comunitária?
Uma horta comunitária é um espaço coletivo onde pessoas de determinada região se reúnem para cultivar alimentos de forma colaborativa e voluntária. Seu objetivo é plantar e compartilhar produtos frescos, saudáveis e acessíveis, além de fortalecer o senso de comunidade.
Normalmente, os cultivos comunitários se localizam em terrenos urbanos ou áreas subutilizadas, como praças, terrenos baldios ou quintais compartilhados. Esses espaços podem ser organizados por moradores locais, organizações sociais ou instituições públicas.
As hortas comunitárias são consideradas uma tecnologia social (TS). Isso porque elas oferecem soluções práticas, sustentáveis e de baixo custo para problemas sociais, como a insegurança alimentar e a falta de áreas verdes.
Atendendo aos princípios dessa abordagem, as hortas envolvem a comunidade em todas as etapas, promovendo autonomia, sustentabilidade e impacto positivo com práticas como reaproveitamento de resíduos e uso consciente de recursos, além de serem replicáveis em diferentes contextos.
Como funcionam as hortas comunitárias?
As hortas comunitárias funcionam com base na cooperação entre os participantes. Eles compartilham as responsabilidades desde o planejamento até a colheita, estimulando a troca de conhecimentos e habilidades relacionadas à agricultura e à sustentabilidade.
A criação de uma horta coletiva começa com a identificação de um lugar adequado, geralmente terrenos urbanos ociosos, frequentemente destinados a depósitos de lixo e entulho, ou áreas públicas cedidas por governos e instituições.
Uma vez definido o local, a comunidade organiza reuniões para discutir a divisão de tarefas, as regras de convivência e os objetivos do projeto, como produção de alimentos, educação ambiental e/ou fortalecimento de laços comunitários.
O manejo das hortas inclui várias etapas: preparo do solo, escolha das espécies a serem cultivadas, plantio, irrigação, controle de pragas e colheita. Podem ser plantados em uma horta comunitária verduras, legumes, frutas, ervas aromáticas e medicinais, além de plantas alimentícias não convencionais (PANCs)
Na maioria das hortas, os participantes adotam práticas agroecológicas para minimizar o impacto ambiental, como compostagem, cultivo de plantas nativas e uso de técnicas orgânicas de controle de pragas.
A gestão das hortas costuma ser descentralizada e colaborativa, com cada integrante contribuindo de acordo com sua disponibilidade e habilidades. Quando feita em parceria com o poder público ou organizações privadas, é comum que a iniciativa também tenha uma equipe técnica que monitora e apoia a implementação de práticas de cultivo sustentáveis.
Em algumas hortas, a colheita é dividida igualmente entre os produtores – muitas vezes famílias de baixa renda e em situação de insegurança alimentar. Em outros casos, parte da produção é destinada para doações ou venda, gerando renda para manutenção do cultivo.
Benefícios das hortas comunitárias
As hortas comunitárias cultivam benefícios que vão além da terra; elas são uma ferramenta poderosa que impactam diretamente a vida dos participantes e fortalecem toda a comunidade ao redor.
As principais vantagens são para o meio ambiente. As hortas contribuem para a sustentabilidade, reduzindo o desperdício de alimentos, promovendo o uso responsável de recursos naturais e melhorando a qualidade do solo.
No aspecto social, esses projetos fortalecem os laços comunitários, possibilitando a integração entre diferentes pessoas e incentivando o trabalho coletivo. Os membros dessas iniciativas compartilham conhecimentos e experiências, criando um senso de pertencimento e solidariedade.
Em termos de saúde, as hortas comunitárias garantem o acesso a alimentos frescos e nutritivos e estimulam hábitos saudáveis, o que melhora a alimentação e colabora para a prevenção de doenças relacionadas à má alimentação. Além disso, o contato com a natureza e a prática do cultivo ajudam a reduzir o estresse, promovendo o bem-estar psicológico dos indivíduos envolvidos.
Esses espaços ainda trazem benefícios do ponto de vista econômico. Eles reduzem os custos familiares e possibilitam a troca ou venda dos produtos cultivados, gerando renda para os membros do projeto.
Importância das hortas comunitárias no combate à fome
As hortas comunitárias são peças-chave na luta contra a fome, especialmente em áreas urbanas e periferias. Elas transformam áreas urbanas em fontes de comida e esperança.
O cultivo de alimentos nas comunidades garante que pessoas em situação de vulnerabilidade tenham acesso a produtos nutritivos. As hortas também ajudam a combater a falta de disponibilidade de alimentos saudáveis nos chamados desertos alimentares, que estão presentes em bairros mais pobres e periféricos.
O plantio comunitário ainda viabiliza a autossuficiência alimentar, permitindo que famílias plantem o que consomem, reduzindo a insegurança alimentar. Além disso, a venda do excedente produzido cria oportunidades de trabalho e renda, fortalecendo a economia local.
Por meio da educação alimentar, elas incentivam o consumo de produtos frescos e a adoção de hábitos alimentares melhores, evitando o desenvolvimento de problemas como a desnutrição e a obesidade.
As hortas comunitárias fortalecem sistemas alimentares sustentáveis ao adotar métodos agroecológicos e promover a produção local, reduzindo a dependência de alimentos industrializados. Esses espaços também preservam a biodiversidade ao cultivar diversas espécies, incluindo plantas nativas, além de valorizar saberes tradicionais e culturais, resgatando conhecimentos agrícolas e alimentares das comunidades.
Além disso, as hortas comunitárias estão em sintonia com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Elas incentivam a segurança alimentar e a agricultura sustentável (ODS 2), ao garantir o acesso a comida saudável. Também favorecem cidades mais inclusivas e sustentáveis (ODS 11) ao revitalizar espaços urbanos e fortalecer o senso de comunidade.
E mais, elas colaboram para o consumo e a produção sustentáveis (ODS 12) por utilizar práticas de cultivo ambientalmente responsáveis e reduzir o desperdício. Essas iniciativas ainda promovem igualdade (ODS 10) e educação de qualidade (ODS 4), por meio do aprendizado coletivo e do empoderamento social.
Como fazer uma horta comunitária?
Criar uma horta comunitária é um processo que exige planejamento e colaboração. O primeiro passo é escolher um local acessível e adequado, com boa exposição ao sol e acesso à água.
Em seguida, é preciso reunir um grupo de pessoas engajadas que compartilharão as responsabilidades, desde o planejamento das culturas até as tarefas diárias. Depois, o preparo do solo é importante, considerando práticas sustentáveis como compostagem e rotação de culturas.
A partir daí, a horta começa a tomar forma, mas seu sucesso depende de um compromisso contínuo da comunidade, que deve cuidar do plantio, irrigação e colheita, garantindo que todos se envolvam ativamente para manter o projeto vivo e produtivo.
Para saber em detalhes o passo a passo para implantar uma horta comunitária, consulte o Guia da Fundação Banco do Brasil, em parceria com a Secretaria de Serviço Público da Prefeitura Municipal de Maringá.
Como inspiração, vale a pena conhecer o Prato Verde Sustentável, um projeto que utiliza o cultivo agroflorestal de alimentos orgânicos para beneficiar a comunidade Filhos da Terra, em São Paulo. Desde 2013, o Prato Verde oferece refeições saudáveis e nutritivas para cerca de 2 mil pessoas por mês, além de usar o excedente para gerar energia e fertilizantes naturais. A iniciativa também fomenta a educação ambiental com treinamentos ecológicos para a comunidade.
Outro exemplo de sucesso é o Cidades Sem Fome, que atua há 19 anos transformando áreas urbanas não utilizadas em hortas comunitárias e escolares. Com mais de 80 hortas urbanas e escolares, a organização beneficia mais de 15 mil alunos e gera centenas de empregos, promovendo a produção de alimentos saudáveis e a comercialização local.