Inflação dos alimentos ameaça a segurança alimentar no Brasil

Entenda por que os alimentos estão mais caros, quem mais sofre com a alta dos preços e o que pode ser feito para conter a inflação brasileira

A inflação é um termo comum no noticiário econômico, mas seus efeitos vão além dos números e dos discursos técnicos: ela chega diretamente à nossa mesa. 

Em 2025, os alimentos continuam entre os principais responsáveis pela alta do custo de vida no país, ameaçando de forma desigual o acesso à alimentação adequada para milhares de famílias. 

Entenda por que os alimentos estão mais caros, quem mais sofre com a alta dos preços e o que pode ser feito para conter a inflação brasileira.

O que é inflação e como ela nos afeta?

Em resumo, inflação é o aumento contínuo e generalizado dos preços de bens e serviços ao longo do tempo. Quando tudo — do arroz ao aluguel — fica mais caro, o poder de compra da população diminui, ou seja, com o mesmo dinheiro, compra-se menos.

No caso dos alimentos, esse fenômeno é ainda mais perceptível. Quando itens básicos presentes no dia a dia dos brasileiros, como arroz, feijão e leite, têm aumento de preço acima da média da inflação geral, os impactos são imediatos e graves.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o grupo “Alimentação e Bebidas” tem sido um dos principais responsáveis pela alta do índice oficial da inflação do Brasil nos últimos anos.

A inflação dos alimentos não se expressa apenas em ajustes temporários nos valores de mercado. Para muitas famílias brasileiras, a alta no preço de um quilo de carne ou de um litro de leite significa a substituição desses produtos por alternativas mais baratas e menos nutritivas — ou até mesmo a sua exclusão do cardápio.

Por que os alimentos estão ficando mais caros?

Quando os alimentos sobem de preço, há uma série de fatores por trás, como mudanças climáticas, aumento de custos, exportações e até o dólar em alta. Juntos, esses elementos fazem com que o preço dos alimentos suba, mesmo quando a produção não necessariamente caiu.

Um dos principais fatores que têm pesado no custo da alimentação são os eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes no Brasil, como secas prolongadas, chuvas intensas e ondas de calor. Eles afetam diretamente a produção agrícola, reduzindo a oferta e prejudicando a qualidade das safras, principalmente de hortifrutigranjeiros, mais sensíveis às variações do tempo. 

Com a intensificação das mudanças climáticas, esses eventos tendem a se tornar mais frequentes. O calor, por exemplo, está entre os que mais afetam a agricultura e aumentam a pressão sobre os preços. Segundo um estudo da revista Nature de 2024, até 2035, a expectativa é que o aquecimento global faça os preços dos alimentos subirem até 3% ao ano no mundo.

Outro fator importante que explica o aumento dos preços é a valorização do dólar em relação ao real, que tem um efeito duplo no abastecimento interno. Por um lado, o dólar alto torna a exportação mais lucrativa para os produtores nacionais, o que incentiva as exportações e reduz a oferta desses alimentos no mercado interno. Com menos produto disponível nas prateleiras brasileiras, os preços sobem.

Por outro, com o dólar mais valorizado, o Brasil precisa gastar mais reais para importar uma série de insumos fundamentais para o cultivo de alimentos, como fertilizantes e máquinas. Isso encarece o custo de produção, que é repassado ao consumidor.

Além disso, outro aspecto que pressiona a inflação dos alimentos no Brasil é a oscilação no valor das commodities agrícolas no mercado internacional, que são sensíveis a eventos externos, como guerras, crises econômicas e interrupções nas cadeias de suprimento e transporte. Esses episódios afetam diretamente a oferta e a procura no cenário global,  influenciando também os custos internos de produção e comercialização de alimentos no país.

Inflação dos alimentos no Brasil em 2025 

A inflação dos alimentos é uma das principais preocupações econômicas no Brasil em 2025. Apesar de o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ter desacelerado entre fevereiro e março deste ano, a inflação oficial ficou em 0,56% — o maior crescimento para o mês de março desde 2003.

A alta do IPCA, principal indicador da inflação no Brasil calculado pelo IBGE, foi pressionada, principalmente, pelo setor de “Alimentação e Bebidas”. Todos os grupos que compõem o índice tiveram oscilações positivas, mas o preço dos alimentos apresentou uma variação de 1,17%, o que corresponde a quase metade (45%) da inflação do mês.

Nesse período, os itens que mais pesaram no bolso do consumidor foram tomate, café moído e ovo de galinha, que registraram alta de preços devido a mudanças de safras, eventos climáticos, aumento do preço no mercado internacional e aumento da demanda.

Confira os indicadores da inflação alimentar nos boletins mensais do Pacto Contra a Fome!

Como a inflação dos alimentos afeta a segurança alimentar

A escalada dos preços dos alimentos no Brasil não impacta apenas os índices econômicos; a inflação compromete diretamente a segurança alimentar das famílias, especialmente as de menor renda. Sendo uma necessidade básica, a alimentação representa um peso crescente no orçamento doméstico quando os preços sobem de forma contínua.

De acordo com um estudo do economista André Braz, coordenador de Índices de Preços da Fundação Getulio Vargas (FGV), os alimentos já consomem 22,61% do orçamento das famílias de renda mais baixa (de 1 a 1,5 salário mínimo). Esse percentual é significativamente maior do que o comprometimento observado em famílias de renda mais alta, o que evidencia a desigualdade no impacto da inflação alimentar.

A situação é agravada pelo fato de que, entre os itens que mais pressionam o orçamento, estão produtos básicos como arroz, feijão, leite, carnes e ovos. Esses alimentos, essenciais para uma dieta equilibrada, tornam-se menos acessíveis, levando muitas famílias a substituí-los por opções menos nutritivas ou a reduzir a quantidade consumida. 

Na prática, esses comportamentos diante da inflação já caracterizam os níveis leves e moderados da insegurança alimentar, definida como a falta de acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente. 

Assim, ao encarecer alimentos da cesta básica, a inflação compromete a qualidade da alimentação das famílias brasileiras e pode empurrar mais pessoas para a beira da insegurança alimentar, principalmente aqueles que já vivem no limite da fome.

Caminhos para conter a inflação dos alimentos

Considerando o impacto significativo da inflação sobre a alimentação das famílias brasileiras, sobretudo as mais pobres, controlar a alta dos preços dos alimentos é uma das prioridades do atual governo.

De acordo com especialistas na área, a contenção da inflação alimentar demanda a execução de uma série de medidas emergenciais e políticas públicas de curto, médio e longo prazo.

Um dos pilares dessa atuação é o fortalecimento da agricultura familiar, responsável por colocar a maior parte dos alimentos frescos na mesa dos brasileiros. Ampliar políticas de acesso à terra, crédito rural, assistência técnica e programas de comercialização pode reduzir custos, estimular a produção de itens essenciais e aumentar a oferta no mercado interno. 

Outra frente é a recuperação dos estoques públicos de alimentos, um instrumento que ajuda a equilibrar oferta e demanda e a conter variações bruscas nos preços. Após a desarticulação da política de estoques nos últimos governos, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) vem sendo reestruturada para retomar as compras públicas estratégicas.

O investimento em infraestrutura logística também é um caminho fundamental. A melhoria de estradas, ferrovias e centros de distribuição, como as Ceasas, pode baratear o transporte de alimentos e facilitar o escoamento da produção de pequenos agricultores, especialmente em regiões distantes e mais vulneráveis a gargalos logísticos.No campo fiscal, uma das medidas que vêm ganhando destaque é a retirada de impostos da cesta básica, no âmbito da reforma tributária. Outra é a isenção de tarifas de importação de alimentos prioritários, usada como ferramenta emergencial para conter altas pontuais.

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