A edição de junho destaca moderação conjuntural nos preços dos alimentos em relação a maio: tivemos a menor variação mensal nos preços de alimentos e bebidas desde o início do ano, mas essa redução não significa, necessariamente, melhora no acesso à alimentação. Isso porque o alívio nos preços dos alimentos tem ocorrido justamente no momento em que os preços de outros grupos de consumo, como habitação e saúde, crescem acima da média e também podem pressionar a cesta, influenciando a decisão de compra do consumidor e colocando em risco a qualidade da alimentação e a saúde da população mais vulnerável.
Inflação, renda e desigualdades
Nossa análise aponta para um paradoxo que desafia a narrativa de recuperação econômica: embora a renda dos 5% mais pobres da população brasileira tenha triplicado entre 2018 e 2024, o avanço foi insuficiente para garantir o acesso à alimentação adequada considerando o acesso a cesta NEBIN, cuja média de custo em maio foi de R$441 por pessoa.
Consideramos aqui que renda não equivale ao salário; o rendimento do trabalho é um dos componentes, mas uma família pode ter rendimento do trabalho, de programas sociais (Bolsa Família, BPC), de outras fontes (aluguel, seguro-desemprego, pensão alimentícia) e também fontes não monetárias. Por isso, analisando o rendimento domiciliar de todas as fontes, temos que a renda cresceu entre as classes mais baixas, mas isso não resolve as vulnerabilidades alimentares das famílias mais pobres.
Despesas como o aluguel, a conta de luz e o plano de saúde não admitem negociação, diante disso, o espaço de ajuste do orçamento recai sobre a alimentação, que é mais flexível do ponto de vista do consumo. Ou seja, o aumento de outros gastos essenciais também compromete a segurança alimentar.
Além disso, o boletim traz também as disparidades regionais: cerca de três em cada quatro pessoas nas regiões Norte (75,3%) e Nordeste (81,7%) não têm renda suficiente para cobrir o custo de uma dieta minimamente saudável e arcar com outras despesas básicas.
Destaques para Maio
Enquanto itens como tomate, arroz e ovos puxaram a inflação do grupo de alimentação no domicílio para baixo (0,02% em maio) por conta de condições amenas de temperatura, boa produtividade e aumento da produção, outros produtos como batata, cebola e café, continuam pressionando os preços para cima. O café, por exemplo, aumenta por conta dos custos logísticos e industriais e da forte valorização dos preços no mercado internacional diante de uma oferta mundial ainda restrita.
Veja todos os detalhes dessa análise baixando o material completo:
Como a inflação dos alimentos impacta a segurança alimentar?
Quando os alimentos ficam mais caros, milhões de famílias precisam comprometer a qualidade da sua alimentação para garantir a comida na mesa ou diminuir o tamanho do prato, com menos variedade, ou até mesmo priorizar quem precisa comer mais.
Essas situações representam a insegurança alimentar. No nível mais grave, que é a fome, as mudanças afetam a família inteira, que pode chegar a ficar um ou mais dias sem comer.
A alta de preços gera diferentes impactos para essas famílias em situação de pobreza e grupos vulnerabilizados socialmente. Isso porque o peso da alimentação no orçamento familiar é muito desigual entre as classes sociais, chegando até 61,2% dos gastos para quem tem renda de até R$2 mil.
Pensando nisso, estamos produzindo, desde janeiro de 2025, boletins mensais com dados sobre a inflação dos alimentos. O objetivo é monitorar o assunto e contribuir para uma melhor compreensão do impacto da variação dos preços no cotidiano de brasileiros e brasileiras.